Hoje apeteceu-me falar da escola, para elogiar o trabalho que está a ser realizado com os alunos. Mas, depois, pensei que poderia sair daqui um texto presunçoso, que soaria a autoelogio, o que detesto. Mesmo assim, arrisquei, começando por uma nota prévia: quando falar de professores e pais, refiro-me aos outros.

Quando os professores souberam que tinham de abandonar a sala de aula, no dia seguinte, estavam a dar continuidade à relação pedagógica com os seus alunos, procurando e inventando meios para os manter “agarrados”. Tal era a vontade de os manter ligados à escola que alguns exageram, dirão. E, provavelmente, é verdade. O que é certo é que aquela classe envelhecida, que alguns descrevem como avessa às mudanças  e agarrada às rotinas geradoras de segurança, arregaçou as mangas e mostrou capacidade de adaptação e grande criatividade. Uma classe tão maltratada pelos sucessivos governos soube, claramente, dar uma lição de defesa do interesse público, apesar de, neste âmbito, os governos terem sido sempre maus professores. Sem que lhes tivesse sido pedido, os professores montaram salas de aula em casa, incrementaram os meios técnicos e a Internet e estão a fazer tudo o que podem para mitigar os efeitos deste abanão, que ninguém previa. Sinto um grande orgulho em fazer parte desta classe, resiliente e lutadora.

Dadas as circunstâncias e a surpresa, a adaptação está a decorrer de forma satisfatória. Mas, para isso, há outros atores muito importantes: os pais e encarregados de educação. Sei, porque contacto com eles frequentemente, que não está a ser fácil. Faltam meios técnicos, tempo para acompanhar os alunos (agora com maior liberdade na gestão do horário), paciência para gerir os conflitos entre os irmãos, que têm que conviver confinados em espaços pequenos, concentração para continuar em teletrabalho… A isto tudo, somam-se as preocupações com o posto de trabalho, que se pode extinguir, o vencimento que desceu, em virtude do desemprego ou lay-off, as debilidades na saúde e as incertezas quanto ao futuro da pandemia. Alguns pais sentiram-se perdidos. Ainda assim, tentaram responder da melhor forma a este desafio de se tornarem super pais. Creio que a maior parte dos pais valoriza o trabalho dos professores, o que é muito bom, sobretudo quando são muitos os dedos apontados à classe docente. Por tudo isto, os pais e encarregados de educação estão de parabéns, porque eles ajudaram (e muito) os alunos a superarem esta dura prova.

Faltam apenas os atores deste filme (que não ficará para a história como de terror, estou certa): os nossos queridos alunos, a razão de existirmos. Mais ou menos indisciplinados, mais ou menos responsáveis, tiveram todos um prova difícil. Jovens, sedentos de liberdade, não foi para eles fácil o confinamento, ainda que para alguns a semana inicial tenha sido positiva, por representar um afrouxar do cumprimento das obrigações escolares. Agora, não há um que diga que não quer voltar à escola, quando mais não seja pelo convívio com os colegas. E pelos professores? “Também”, respondem, alguns por educação, talvez. Os alunos estão também de parabéns, pois para a maioria a prova está a ser superada.

Todos queremos voltar à escola, porque nos faz falta o olhar, o sorriso e o afago, ainda que este não tenha data para regressar. E vamos voltar, talvez mais fortes, porque o que não nos derruba fortalece-nos. Assim diz o povo, que não se costuma enganar!