A direcção da Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF) decidiu não se recandidatar a um segundo mandato. Em causa, referiu hoje Rui Carneiro em conferência de imprensa, realizada no Parque de Exposições Capital do Móvel, estão três motivos: falta de apoio e desinteresse por parte dos associados; a não regularização de uma dívida de cerca de 500 mil euros por parte da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, que causa dificuldades de tesouraria à associação; e o não reconhecimento dessa dívida pelos actuais vereadores do PSD, responsáveis, no passado, pelo contrato que a originou.

Segundo o presidente da AEPF, não está de parte a hipótese de avançarem para uma acção judicial, embora não queiram optar por essa solução.

Por outro lado, se o desinteresse dos empresários nas feiras Capital do Móvel continuar, a realização do certame no concelho pode estar em risco, admite Rui Carneiro. “Temos a necessidade que as grandes exposições do concelho estejam cá. Senão temos que repensar e dar outro uso ao pavilhão e acabamos com as Feiras”. Mas deixar de fazer o certame é mau para os empresários e para as exposições do concelho, garantiu: “Paços de Ferreira pode tornar-se num museu”.

 

“Muitas vezes temos que pedir ‘por favor’ para termos expositores”

A intenção de não avançar com uma recandidatura já tinha sido avançada pela direcção na última Assembleia Geral Ordinária, realizada no final de Março. Agora, em conferência de imprensa, Rui Carneiro, presidente da direcção da AEPF, e Samuel Santiago, vice-presidente da associação, vieram justificar esta decisão.

“Sentimos falta de apoio por parte dos associados, ao ponto de sentirmos que estão de costas voltadas com a associação”, sustentaram. “As feiras onde continuamos a fazer um investimento tão grande todos os anos continuam a ser marginalizadas por alguns dos maiores comerciantes de mobiliário. Muitas vezes temos que pedir ‘por favor’ para termos expositores”, lamentaram ainda, dizendo que tem sido difícil encher os pavilhões. “Temos a necessidade que as grandes exposições do concelho estejam cá. Senão temos que repensar e dar outro uso ao pavilhão e acabamos com as feiras. Há esse risco”, salientou Rui Carneiro.

Para manter a marca Capital do Móvel viva, é preciso o apoio dos empresários, defendeu. “Se os empresários não querem este modelo de feira que nos digam. Para a Associação era mais fácil fazer uma feira em Matosinhos ou Lisboa. Mas temos um milhão de metros quadrados para manter no concelho. Deixar de fazer as Feiras é mau para os empresários e para as exposições. Paços de Ferreira pode tornar-se um museu”, assumiu o dirigente, confirmando que, apesar de o departamento de feiras dar prejuízo o objectivo é ajudar os empresários.

Samuel Santiago e Rui Carneiro

“Não queremos chegar a esse ponto. A ida para tribunal criava uma ruptura que não é boa para ninguém”

Entre as motivações que os levam a não se recandidatar está ainda uma dívida municipal a rondar os 500 mil euros, que “não é novidade”, mas que faz falta para que a AEPF consiga pagar as suas contas a tempo e horas. “Apesar de este executivo não ser o responsável pela criação da dívida existente continuamos a aguardar a sua regularização. Isto dificulta a tesouraria e faz com que a AEPF não consiga cumprir os seus compromissos para com fornecedores e organizações bancárias”, argumentaram.

Em causa está um contrato de arrendamento do parque de exposições realizado entre a Câmara e a AEPF há cerca de oito anos, que durou dois anos e pressupunha o pagamento de um valor mensal. A autarquia ainda terá pago algumas mensalidades, mas a maioria da verba ficou por pagar, dizem os responsáveis pela associação empresarial. Com a justificação de não haver dinheiro para saldar a dívida a situação foi-se arrastando nos últimos anos.

“Sabemos que a dívida vem do anterior executivo. E lamentamos que os vereadores do actual executivo do PSD não reconheçam a dívida para com a AEPF quando estes vereadores faziam parte do executivo que criou a dívida”, disse Rui Carneiro. Por outro lado, e apesar das boas relações com o actual executivo camarário, os dirigentes dizem não entender que “não haja um compromisso por parte da autarquia para assumir a dívida ou estabelecer um plano de pagamentos”. “Não somos políticos. Estamos aqui para defender a Associação Empresarial”, salientaram.

Por isso, e se a situação não for resolvida “a bem”, ponderam avançar para a via judicial. “Não queremos chegar a esse ponto. A ida para tribunal criava uma ruptura que não é boa para ninguém”, assumem.

 

500 mil euros permitiriam pôr as contas em dia

É que esses 500 mil euros permitiriam à associação pôr as contas em dia e ficar com uma almofada financeira para fazer mais pelos empresários e renegociar melhores taxas na dívida à banca. No total, o relatório de contas aprovado na última assembleia, mostra que a dívida da AEPF ronda os 1,5 milhões de euros, sobretudo em dívida à banca, devido às obras de remodelação do pavilhão de feiras e exposições.

“Gostaríamos de nos recandidatar, mas só depois de vermos estes problemas resolvidos”, afirmaram Rui Carneiro e Samuel Santiago.

No final de Maio haverá nova assembleia para apresentar listas. Caso não apreça ninguém para liderar a direcção da AEPF vai correr um novo prazo, de 60 dias, para a realização de uma nova assembleia. Até lá, esta direcção continua em gestão.