Croniqueta dos tempos que correm

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Da guerra: quem, como nós, desde o primeiro dia afirmou que só a supremacia de uma das partes em confronto permitiria negociações de paz, muito pouco acrescentaremos, apesar de sempre e sinceramente lamentarmos cada vida que se destrói e cada morte que acontece. 

Da escalada retórica que aproxima a linguagem bélica da força nuclear, ainda não temos medo, mas nunca desvalorizaremos essa possibilidade. Fizeram-no outros e enganaram-se.

Do fim da guerra não vemos luz. Da vontade da paz duvidamos sempre quando as partes reivindicam para si a força para vencer que só se alcança pelo uso das armas.

Duma coisa estamos certos: esta não é só uma guerra da Federação russa contra a Ucrânia. É mais do que isso. É sobretudo um confronto indireto entre a Rússia e os Estados Unidos da América. Mais resultados se alcançarão de uma conversa honesta entre Biden e Putin do que um improvável encontro entre Zelensky e o líder russo.

Por cá: O governo vai começar a ter dificuldades em explicar como é que vai cumprir o que prometeu e executar um orçamento de estado que aprovou solitariamente e prever o provável: uma inflação como há décadas não se via.

É um problema sem solução? Não.

O capitalismo sempre soube inventar maneiras para sobreviver. Mesmo que tenha de repetir a fórmula, como é o caso: a classe média, ou o que resta dela, pagará o dislate. Salazar garantia que nos livrava da guerra, mas não nos garantia que não passássemos fome. Este governo, ou outro que fosse, dir-nos-á que envelheceremos mais pobres, mas não morreremos disso.

Entretanto, o governo voltou atrás na lei que penalizava os médicos que acompanhavam a prática de um aborto. Voltou atrás e pediu desculpa como se a coisa se resolvesse assim, mas não: a lei foi corrigida, mas os idiotas que a fizeram continuam por lá.

Ainda por cá e dosopositores do PCP se dirá que continuam agarrados à sua posição sobre a guerra na Ucrânia como um cão esfomeado a um osso. Quer isto dizer que, embora pareça, a posição do PCP não é determinante para o fim da guerra, mas o ódio aos comunistas não quer saber disso.

Quem odeia os comunistas não sabe que o PCP apoiou o pacto germano-soviético, o muro de Berlim, a invasão da Hungria, o Holodomor ou o massacre de Tianamenentre outros horrores. Mas, quem odeia os comunistas também não quer saber que os Estados Unidos da América já estiveram de mãos dadas, ou foram mesmo protagonistas, de crimes tão graves ou mais ainda do que os russos.

Quem odeia o PCP não sabe, sobretudo, que, para um comunista, há o lado do Bem e o lado do Mal e mesmo que o lado do bem nem sempre seja bem, será sempre melhor do que o lado do mal. Por outras palavras: para o PCP em primeiro lugar e do outro lado estarão sempre osEUA e enquanto assim for que ninguém lhes peça para olharem com os mesmos olhos para ambos os lados.

Acresce que, tal como afirmam desde o princípio da guerra, a posição da Ucrânia, apesar da razão que possa ter, nunca foi de apelo à paz. Só às armas.