Com a importância que Valongo pode adquirir ao nível ferroviário, com as linhas de Leixões e Vale do Sousa, cabe colocar em cima da mesa a relocalização da estação para o centro da cidade.

 

A sociedade que devemos almejar deve ser uma que vise o coletivo, ao invés de apostar no individualismo. Nas últimas décadas o caminho trilhado por diversas políticas foi o da aposta no indivíduo, atomisticamente considerado, e não no indivíduo enquadrado e integrado em sociedade. O exemplo paradigmático desta realidade no nosso país passou pela aposta no transporte individual, em detrimento do transporte coletivo.

Para resumir, recorro às palavras de Tony Judt: “Se não conseguimos perceber a vantagem de despender os nossos recursos colectivos em comboios, não será só por termos todos aderido a comunidades muradas e já só precisarmos de carros para circular entre elas. Será por nos termos tornado indivíduos murados que não sabem partilhar o espaço público para vantagem comum. As implicações de uma perda dessas transcenderiam de longe o declínio ou extinção de um sistema de transportes entre outros. Significaria que tínhamos acabado com a própria vida moderna”.[1]

Ao nível nacional, a discussão sobre a ferrovia vem sofrendo algumas evoluções positivas. Recorde-se que, há cerca de uma década, Portugal era o único país da União Europeia, além da Grécia, a diminuir os Km de ferrovia. Hoje, (re)abrem-se linhas, aumenta-se a oferta e, aparentemente, projeta-se o futuro. Tenho a esperança que tal seja sinal de que o país aderiu, finalmente, à visão cosmopolita de que o comboio é o transporte do futuro, mais do que do passado.

Ao nível regional, há muito trabalho a fazer. Há dois projetos estruturais que a região tem a responsabilidade de colocar na ordem do dia. O primeiro prende-se com o serviço de passageiros da Linha de Leixões. Este serviço, suspenso em 1987, voltou a ter lugar entre 2009 e 2011. Apesar do investimento feito, este serviço não chegou a contar com os grandes atrativos que poderão torná-lo fundamental para a mobilidade, quer da Area Metropolitana do Porto, quer da região do Vale do Sousa (que seria servida a partir da estação de Ermesinde). Os atrativos são a Estação Intermodal de Leixões e as estações e apeadeiros que não passaram do papel, com particular relevância para a do Hospital de São João.

O segundo projeto relaciona-se com o eixo ferroviário do Vale do Sousa, que ligará Valongo a Paços de Ferreira e Lousada, indo até Felgueiras e daí até Amarante, onde entronca com a Linha do Tâmega (que faz ligação à linha do Douro na Livração). O potencial deste projeto é incontestável.[2]

Ao nível local, este momento também deverá ser aproveitado para a discussão sobre decisões estruturantes. A título de exemplo, considerando a nova centralidade projetada para Valongo, com a construção da nova Câmara Municipal, fará sentido estudar a alteração da localização da estação de comboios. Atualmente, como acontece em Penafiel, a estação fica arredada da cidade, o que não potencia nem a cidade nem a ferrovia. Com a importância que Valongo pode adquirir ao nível ferroviário, com as linhas de Leixões e Vale do Sousa, cabe colocar em cima da mesa a relocalização da estação para o centro da cidade.[3]

 

[1] T Judt, “Um Tratado sobre os nossos actuais descontentamentos” (Edições 70, 2010), p.202

[2] https://verdadeiroolhar.pt/2020/05/27/investimento-na-linha-do-vale-do-sousa-estimado-em-181-milhoes-de-euros/

[3] Ainda que tal facto não tenha influência na opinião expressa, por razões de transparência o autor faz notar que reside nesta zona.