Casa do Xisto é o nome do projecto que foi inaugurado e apresentado publicamente na sexta-feira, em Alfena (Valongo), e que promete promover a inclusão de pessoas com necessidades especiais, através de diferentes formas.

“Casa” porque “é a casa de todos”. “De certa forma, servir como servem as nossas casas – temos os nossos filhos, dentro daquele ambiente acolhedor, eles são potenciados e depois voam”, compara a gestora do projecto, Manuela Sousa.

Na equipa, contam com psicólogos, assistentes sociais, mediadores, professores de dança e animadores, que vão ajudar a concretizar os objectivos a partir de acções de sensibilização, artísticas e ligadas ao desporto, bem como pelas várias valências do espaço, que fica localizado na antiga Escola Básica do Xisto.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

O espaço foi cedido pela câmara e idealizado, criado, decorado e passado do papel para a realidade pelas mãos dos integrantes do projecto e também de voluntários e empresas, que ofereceram móveis e ajudaram a pintá-los.

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O piso de baixo é mais funcional, com uma sala de desporto; o bar, que pretende ser um espaço de convívio; a sala do saber fazer, para aprender ofícios e a trabalhar com vários materiais; a sala das artes, onde vai acontecer o teatro, a música e a dança; o ginásio da criatividade, que é um espaço de exploração livre, onde vai ser desenvolvido o aspecto criativo. Já o piso superior é mais dedicado às terapias, a um trabalho de um para um, à sua relação inter-pessoal, com uma sala de integração sensorial, uma sala de estimulação sensorial (através do Snoezelen) e uma sala de capacitação.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Segundo conta a gestora do projecto, a escola que ali funcionou durante vários anos, desde 1993, “já fazia a diferença”. “Foi a primeira escola a usar o slogan «Todos diferentes, todos iguais», foi a primeira a pôr abaixo a porta que dividia o piso da não deficiência e da deficiência, foi a primeira a criar ferramentas para conseguir trabalhar a deficiência. Por algum motivo viemos aqui parar outra vez”, refere.

Inclusão é trabalhada com o participante, a família, empresas e comunidade

O funcionamento do espaço é a tempo parcial, sendo que cada sala serve quatro pessoas durante o dia e os utentes não poderão frequentar mais de 20 horas por semana, explica a responsável pelo projecto.

O apoio é destinado a pessoas com deficiência a partir dos seis anos, juntamente com as suas famílias (preferencialmente, residentes no concelho de Valongo, mas também de fora, desde que haja vaga), que se podem inscrever, dirigindo-se ao local, telefonando, ou através das juntas de freguesia, que já estão preparadas para realizar a inscrição online. O próprio projecto também já se encontra a efectuar a identificação dos casos existentes que poderão usufruir destes serviços.

Além desse trabalho de reconhecimento, ainda estão a ser resolvidas algumas burocracias ligadas ao início do funcionamento do projecto na prática, pelo que o espaço só vai poder receber os participantes “muito em breve”, garante Manuela Sousa.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

O trabalho de inclusão pretende ser realizado não só junto do participante, mas também com a família e com o tecido empresarial e outras instituições. “O objectivo aqui é potenciar, devolver à sociedade, mas já num formato mais confortável, já a acreditarem neles próprios, já potenciados, já com as empresas preparadas para recebê-los”, explica Manuela Sousa, referindo que querem desenvolver competências sociais e profissionais na pessoa que usufrui das actividades.

O contacto com as empresas já começou a ser realizado e, segundo conta a coordenadora, a receptividade tem sido boa porque mostraram abertura para incluir pessoas com necessidades especiais em lugares profissionais.

“Inclusão é uma palavra que se ouve bastante hoje em dia e ainda bem que se ouve, mas é preciso ter muito cuidado na forma como a usamos porque a palavra significa efectivamente haver um trabalho de raiz, conhecer o problema real, onde está efectivamente o problema e não vê-lo pela rama”, descreve ainda a gestora do projecto.

“Isto só corre bem se as pessoas colaborarem, se os pais perceberem que projecto é este, qual é o objectivo”, refere o presidente da Câmara Municipal de Valongo, José Manuel Ribeiro, aconselhando as pessoas a procurarem saber mais sobre o funcionamento desta iniciativa.

OTL ESPECIAL@rte foi a primeira parte da experiência

O trabalho para a criação deste projecto é o seguimento daquilo que é efectuado no OTL ESPECIAL@rte, que funciona desde 2015 no período das férias escolares.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Esse projecto, de acordo com o autarca, “era muito interessante e deu nas vistas” da representante da região Norte da Portugal Inovação Social, Helena Loureiro, que fez um desafio ao município. “E nós agarramos o desafio”, acrescenta.

Helena Loureiro indicou que, recentemente, a Casa do Xisto foi um dos projectos que chamou a atenção quando foi mencionado em Bruxelas, durante uma reunião com ministros dos Estados-membros, que ouviram aquilo que se passa em Portugal no âmbito da Inovação Social.

Foto: Ana Regina Ramos/Verdadeiro Olhar

Manuela Sousa acredita que “Valongo vai fazer a diferença a este nível” e que a Casa do Xisto pretende ser mais que um projecto e sim “uma forma de estar perante a deficiência, porque é possível, há provas desde 2015”. “Já se faz muito, mas ainda é possível fazer mais”, continua.

A Casa do Xisto – A Arte para a (D)Eficiência é um projecto do município de Valongo, dinamizado pela EducaSom – Associação de artes e cultura e co-financiado pelo Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Social Europeu, na linha Parcerias para o Impacto 2018. Teve um investimento comunitário de cerca de 400 mil euros e pelo município de perto de 300 mil, refere o presidente da autarquia.