Creio ser consensual que a corrupção está em todo o lado, basta para isso existir um homem ou uma mulher, e que uma esmagadora maioria repudia a corrupção e concorda que a mesma deve ser prontamente condenada e combatida. 

No entanto, somos capazes de cometer atos ou perdoar atos que, se não forem de corrupção financeira, são certamente de corrupção ética e moral.  E este tipo de corrupção, a corrupção dos valores, levará rapidamente a outros tipos. 

Recentemente,  durante o Campeonato Europeu de Hóquei em Patins Sénior que ocorreu em Paredes, e aproveito para elogiar e parabenizar a Câmara e a Federação de Patinagem pela excelente organização, duas seleções protagonizaram um dos piores exemplos que podemos ter no desporto e que vai contra tudo aquilo que o desporto deve defender e representar. Com o intuito de chegarem à final, deixando Portugal de fora, França e Espanha abdicaram de competir e passaram o jogo a passear a bola numa clara atitude de anti-jogo. 

Este tipo de atuação, decidida por um selecionador e compactuada por um grupo de jogadores, mancha a imagem de toda uma nação. É um gesto que revela mesquinhez e falta de carácter. Por algum motivo intitulamos de seleção e de selecionador.  Porque são escolhidos os melhores para representar um país e levar esse país a uma vitória. Mas certamente que a maioria dos espanhóis e dos franceses desejavam essa vitória de uma forma valorosa e honrada. Certamente ninguém desejava a vitória sacrificando os valores da ética desportiva.

Devemos dar tudo que temos para ganhar, mas não vale tudo para se ganhar. Quem acha que vale tudo então não deve representar uma nação e sou da opinião que nem um clube é digno de representar, já que um clube assenta a sua existência na sua massa associativa e esta deve ser representada de forma digna.

Em Valongo apostamos e investimos na formação desportiva para as camadas jovens porque acreditámos que o desporto, para além de ocupar as nossas crianças e jovens afastando-os de maus caminhos, ajuda no desenvolvimento de uma personalidade mais solidária,  mais forte, mais justa e mais preparada para a vida adulta. Mais solidária porque eles aprendem que, para chegar longe não podem trabalhar de forma isolada. Mesmo nos desportos individuais dependem de treinadores, preparadores, juízes e dirigentes.  Mais forte porque, para além da componente física, desenvolvem força mental que os prepara para as vitórias e principalmente para as derrotas que terão de enfrentar e ultrapassar ao longo de toda a vida, seja na dimensão pessoal ou na dimensão profissional. Mais justa porque lhes deve ser ensinado e praticado que a vitória só deve ser comemorada quando conquistada de forma correta, justa e sempre com respeito pelo adversário que hoje perdeu,  mas que amanhã nos poderá ganhar. Mais preparada porque, se assimilarem e praticarem valores éticos e morais, estarão a formar uma personalidade que saberá viver e conviver em sociedade, respeitando e ajudando o próximo. 

Quando adultos com a responsabilidade que um selecionador e uma selecção têm fazem tudo ao contrário então todo este trabalho e investimento feito na formação é posto em causa.

E não haja ilusões,  para combater este tipo de comportamentos, mas também comportamentos de corrupção e violência, só apostando na educação e boa formação dos mais novos. 

Em Valongo a autarquia continua e continuará a fazer essa aposta, mas ela não pode ser minada por país ou treinadores ou dirigentes. Não podemos esperar um comportamento correto de um ou uma jovem enquanto jogam, se o pai ou a mãe insultarem os árbitros ou os seus colegas. Não podemos esperar deles um comportamento digno e ético quando um treinador ou dirigente se envolvem em conflitos ou incentivam atos de desrespeito e violência. 

Também não podemos aceitar que as claques reiteradamente pratiquem atos de agressões verbais e físicas considerando que é uma das suas funções. 

Assim como não podemos aceitar que haja corrupção ao nível dos dirigentes desde que eles levem o nosso clube à vitória. 

Este tipo de atitudes revela que ainda há muito para fazer e mudar.

Compete às Federações e governos criarem mecanismos para combater estas atitudes vergonhosas. Em Valongo vamos passar a premiar comportamentos de ética desportiva mas continuando a pensar como responsabilizar aqueles que adotam comportamentos antagónicos.

A escola é um trampolim social que permite que qualquer criança de qualquer condição social e económica, tenha a possibilidade de em adulto não continuar condenado à condição em que nasceu e foi criado, mas temos outras escolas com uma função paralela muito importante, como é o caso do movimento associativo, quer na vertente cultural,  social, política ou desportiva.

Por isso entendo que o desporto pode e deve ser também uma escola, mas com maus professores não podemos esperar ter bons alunos.