Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Eu criei os filhos e depois criei os netos. Alguns foram de pequeninos para minha casa”, conta Maria Silva, de 79 anos, rodeada de alguns dos seus 10 netos, a que se somam 10 filhos e uma bisneta. A natural de Meinedo (Lousada), vive em Marecos, freguesia de Penafiel, e juntou-se, hoje, à festa do Dia Nacional dos Avós no Parque da Cidade de Penafiel. Quis ouvir a missa, dirigida pelo Bispo do Porto, e estar com os netos mais novos.

“Gosto de passar tempo com eles. Os pais iam trabalhar e eles ficavam comigo. Eu acho que é esse o papel dos avós. Se os filhos precisarem de ajuda é uma boa ajuda. Eles não deixam de trabalhar e nós, ao tê-los lá, estamos entretidos. Adoro os meus netos”, afirma a sénior, junto da Sara e do Luís (“que vai ser neto, mas eu já lhe chamo neto, que ele gosta muito de mim”), do Leandro, do Bruno e do João. “Gosto muito de tê-los à minha beira. Quando não estão as mães sou eu que tenho de zelar por eles”, sustenta Maria.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Mais de sete mil avós, netos e familiares comemoram em Penafiel, com várias actividades. “Este é um dos eventos mais especiais do concelho de Penafiel. Foi aqui que tudo começou, graças à determinação e empenho de Ana Elisa Couto”, destacou o presidente da Câmara, frisando que desde que o dia foi consagrado, em 2003, que o dia é celebrado no concelho, “com alegria e entusiasmo”. Depois do interregno causado pela pandemia, o entusiasmo é este ano “acrescido”, garante Antonino de Sousa. O dia é feito de missa, actividades desportivas, rastreios, entretenimento, música e animação. “Mas o mais importante para os avós é a oportunidade de terem um dia inteirinho para estarem a conviver com os seus netos”, acredita o autarca.

Este ano há bolo de 109 metros para homenagear o “avô mais velho de Penafiel”, Vitorino Fernandes, recentemente falecido. “Deixou-nos, mas o que é importante sublinhar é que deixa deliciosas memórias da forma afável e carinhosa e do brilho que tinha nos olhos quando aqui celebrava o dia dos avós”, refere Antonino de Sousa.

Há quem tire o dia a férias

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Avós são pais duas vezes. A ideia é partilhada por muitos dos avós presentes nesta celebração. Uma delas é Ana Nunes, de Valpedre. A avó, de 70 anos, gosta de vir a esta festa. Com ela trouxe os netos mais novos, a Maria Inês e o Duarte, de quem costuma tomar conta.

“A gente distrai-se, vê-se pessoas que às vezes se passa um ano e não se vê. E agora passaram três”, comenta. “Eu acho que a coisa mais importante é homenagear os avós. Os avós são pais duas vezes. Criei os meus filhos e agora ajudo a criar os meus netos”, afirma a mulher que tem seis filhos e 10 netos.

Com os netos, confessa Ana Nunes, há “mais calma e paciência” e menos preocupações. “Já não damos uma sapatada por tudo e por nada, pensamos duas vezes. Quando criamos os filhos eram outros tempos, muita lida, não havia a fartura de agora. Eu trabalhei sempre no campo e cuidava dos filhos”, conta.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

E para estar com os netos há até quem tire, propositadamente, o dia 26 de Julho de férias. As t-shirts em honra dos netos já denunciavam Manuel Ferreira, de 56 anos, e Célia Moreira, de 54. A frase “os avós criam memórias que o coração guarda sempre” ilustra uma foto dos netos, Lara e Duarte, e uma declaração de amor. Estes avós, de Irivo, casados há 36 anos, têm três filhos e dois netos.

“É um dia bonito. Vimos passar um dia diferente. Trazemos os netos connosco e o merendeiro. É um dia de férias, tiramos o dia para isto”, assumem. “Isto está muito diferente. Agora pega-se nos meninos e vão para a creche. Os avós não estão tão presentes. Antigamente os avós tomavam conta dos netos”, lamentam. Eles têm sorte, moram ao lado e têm contacto permanente. “Ser avô é mais que ser pai duas vezes, é diferente”, diz Manuel. “É ser mãe, ser avó é tudo”, acrescenta Célia.

“Só não vou dançar porque sou muito velha”

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

De cabelos brancos e rugas a preencher um rosto que já viveu muito, agarrada a uma pequena bengala que a ajuda a equilibrar-se, Maria Vales, de 90 anos, não engana: tem aspecto de avó.

Vive em Oldrões e é mãe de sete (três raparigas e quatro rapazes) que lhe deram 14 netos e quatro bisnetos. “Já costumo vir todos os anos desde que isto começou. Gosto deste dia. Só não vou dançar porque sou muito velha”, diz a sénior com um sorriso, enquanto conta que trabalhou sempre na terra e descreve “uma vida dura, mas bonita”: “A gente ia para o campo e cantava-se”, recorda. Não trouxe com ela os netos, que estão a trabalhar, mas veio com a nora e aguardava para ver a missa.

Também Teresa Nogueira, de Canelas, com 73 anos, não veio com nenhum dos quatro netos ou dois filhos, mas não quis perder este dia. “Já costumo vir. Gosto do ambiente e do convívio, de ver a missa. Com esta idade estamos na aldeia e saímos pouco de casa, aproveitamos estas alturas para ver pessoas que já não víamos há algum tempo”, confessa.