Nelson Oliveira

As eleições de 4 de outubro trouxeram uma noite eleitoral de grande euforia para os membros da Coligação PàF e de desapontamento junto do PS. Durante o período eleitoral, vários erros foram cometidos pela campanha socialista que nunca deveriam ter sido possíveis dada a alegada experiência e profissionalismo dos seus coordenadores.

Do lado da PàF, a estratégia foi só uma. Falar do programa do PS e esconder o seu. Atribuir culpas ao PS e negligenciar 4 anos de governação à direita com números muito pouco simpáticos para apresentar. O que acontece é que resultou mas não totalmente.

A partir do dia 5 de outubro, aqueles que rejubilavam pela sua vitória, começaram a cair na realidade e muitos puderam consultar pela primeira vez em 4 anos, a Constituição da República Portuguesa.

Como ponto prévio e como já tive oportunidade para o afirmar várias vezes, sou da opinião que é a PàF que deverá formar Governo, ainda que sem maioria na Assembleia da República.

Contudo, isso não impede o PS de António Costa, procurar alternativas para apresentar ao Presidente da República, tal como seria sua obrigação. É uma possibilidade constitucional e quem decidirá é Cavaco Silva – portanto, a responsabilidade está agora totalmente direcionada para um Presidente da República que durante 10 anos foi amorfo e apenas ativo quando era necessário partidarizar o seu cargo – daí que não prevejo qualquer problema para PSD/CDS.

As críticas à ação de António Costa são curiosas quando vemos Paulo Portas, no debate que teve com Passos Coelho em 2011, descrever na perfeição como se forma um governo com base na nossa Constituição. Dizia ele que PSD e CDS não precisavam de ser os partidos mais votados para formarem governo, podendo até ter votações na casa dos 23% para, juntos, concretizarem uma Coligação com maioria na Assembleia da República.

Neste âmbito, já começa também a ser hábito, vermos a comunicação social de âmbito nacional, completamente arreada aos interesses governativos. Passaram ininterruptamente as declarações de António Costa em 2009, quando afirmava que quem governa deve ser quem recebe a maioria dos votos (sinceramente não vejo qualquer incongruência de fundo quando fala em “maioria”), mas não colocavam no ar a excelente explicação de Paulo Portas a Passos Coelho – opções editoriais, claro está!

Neste jogo das 1001 formas de Governo, há apenas um dado novo e para registo. A disponibilidade do PCP em não colocar entraves ao PS nem fazer o seu típico discurso do contra (Euro, NATO, UE, etc.) – a ver vamos!

António Costa, quando muitos já o davam como “morto”, faz a sua maior e única jogada possível – ter o papel de negociador de consensos.

Agora a “bola” está do lado de Cavaco. Dar posse a um Governo minoritário com negociações pontuais com o PS (sem que para isso o Partido Socialista traia os seus eleitores), ou dar posse a uma maioria de esquerda. Sinceramente, prefiro a primeira opção, mas a democracia é assim mesmo.

Para o futuro, é bom que os políticos se habituem a cumprir e a perceber a Constituição porque durante 4 anos os atentados foram demasiado evidentes.

As eleições legislativas não escolhem Governos nem Primeiro Ministros – elegem Deputados.