Sou fã de um processador de texto criado pela equipa de Donald Knuth em 1978, sobretudo numa variante preparada por Leslie Lamport em 1982 e desenvolvida até à actualidade por uma multidão de entusiastas. Este processador de texto chama-se TeX, uma palavra grega (em minúsculas escreve-se τεχ) que significa simultaneamente arte e tecnologia. Em grego, pronuncia-se «TeK». A variante que eu utilizo chama-se por LaTeX, por referência ao apelido de Lamport.
Na verdade, estes processadores são a combinação de programas informáticos com uma biblioteca de arte. Os algoritmos de composição produzem resultados de uma elegância única e até as letras foram desenhadas expressamente por programas sofisticados. Ainda hoje, a maioria das publicações científicas adopta estes processadores, porque toda a gente reconhece que uma equação escrita em LaTeX é outra coisa!
Os resultados falam por si, mas o grande público nunca quis saber destes processadores, em que o texto permanece ilegível até ser processado. Realmente, o TeX e o LaTeX nasceram no mundo da universidade, para gente que passa a vida a programar e gosta de escrever os seus textos como quem resolve equações. O grande público reconhece a qualidade do produto final, mas queixa-se dos comandos obscuros… Não há volta a dar, cada um fica com o que gosta.
A comunidade do TeX responde às críticas do grande público dizendo que os outros processadores são «WYSIWYG». Não é insulto, é uma brincadeira inocente, com uma leve ironia: esta palavra é formada pelas iniciais de «what you see is what you get» (obtém-se aquilo que se está a ver). Ao escrever um documento em «Word», por exemplo, vê-se no «écran» como vai ficar. O elogio troca-se em crítica velada quando se entende a frase ao contrário: quando se imprime, não fica melhor do que aparecia no «écran».
Os cristãos WYSIWYG são realmente aquilo que dizem. A expressão é de Gustavo Entrala, numa entrevista a Inés San Martín da revista «online» Crux (21 de Setembro). Entrala e Carlos García-Hoz, empresários na área do «marketing» digital, escreveram uma carta a Bento XVI a propor-lhe os seus serviços. Passado meio ano, o Vaticano encomendou-lhes um curso de uma semana sobre como melhorar a comunicação da Igreja. A experiência correu tão bem que os contrataram por mais 5 anos, para lançarem novos canais de comunicação, como a conta de «Twitter» do Papa, a «Pope App» e o serviço news.va.
Os resultados estatísticos ultrapassaram recordes. Por exemplo, a conta de «Twitter» tem dezenas de milhões de seguidores, nas várias línguas do mundo, e mesmo a versão em latim (https://twitter.com/Pontifex_LN) chega praticamente ao milhão de seguidores.
Na entrevista, ao analisar as razões do sucesso da comunicação de Bento XVI e agora de Francisco, Entrala atribui o fenómeno a eles serem «leaders» WYSIWYG:
– Sou um especialista em «marketing» e tecnologia, movimento-me nesses dois mundos. Do ponto de vista da consistência da marca «Papa Francisco», considero que neste momento ele é o «leader» mundial mais autêntico. (…) Numa época em que as instituições sofrem uma tremenda perda de credibilidade, ele encarna o seu projecto. Quando fala de pobreza, manifesta-o de mil maneiras. (…) Penso que o Papa é aquilo que as pessoas vêem. Fala de pobreza porque primeiro foi pobre; fala de sermos misericordiosos porque primeiro foi misericordioso com as pessoas.
– É consistente e honesto: não deixou de falar do aborto, da família, da concepção católica do casamento. Mas põe o acento noutras coisas que fazem mais pessoas sentir-se acolhidas na Igreja. (…) Viajo por todo o mundo e muita gente me diz isto. Uma mulher divorciada, um homem com uma vida complicada, dizem-me «sentia-me excluído, mas este Papa ajuda-me a sentir-me em casa». Não é que alguma vez tivessem sido oficialmente excluídos, mas quando a Igreja falava nem todos se sentiam incluídos.