Verdadeiro Olhar

Vida de Hans Isler retratada em palco

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Os lousadenses vão poder conhecer melhor um pouco melhor uma das figuras mais importantes da história contemporânea do concelho. No dia 4 de Dezembro, o Auditório Municipal de Lousada acolhe a estreia de “Isler”, peça de teatro levada a palco pela “Vidas em cena” e que retrata a chegada, o apogeu e o declínio de Hans Isler, o empresário suíço que criou a marca “Kispo” e revolucionou, económica e socialmente, o concelho lousadense.

Enquanto não chega o dia da estreia, 12 actores, liderados pelo encenador Vítor Fernandes, continuam a trabalhar um texto original e que promete revelar alguns pormenores da morte misteriosa de Hans Isler.

Texto original após intenso trabalho de pesquisa

Todos os anos a companhia de teatro amadora “Vidas em cena” apresenta uma peça diferente ao público local. E depois da comédia histórica “Dom Rodrigo e os Cabaçudos”, a companhia criada há cinco anos em Lousada vai apresentar “Isler”, um trabalho sobre o fundador da Fabinter Fábrica Internacional de Confecções, empresa que chegou a ter mais de 600 trabalhadores e que ficou famosa pela marca “Kispo”. “A ideia de avançar para este projecto está relacionada com a importância que Hans Isler teve na sociedade e na economia de Lousada”, explica o presidente da “Vidas em cena”. José Carlos Carvalheiras acrescenta, por outro lado, que a morte do empresário suíço “é, provavelmente, o maior tabu de Lousada”. “Há muitos enigmas à volta da vida de Hans Isler. O suicídio dele também foi no mínimo estranho e há quem ainda não acredite que ele se tenha matado. A própria investigação policial é inconclusiva”, refere.

Reunidos muitos dos ingredientes para uma história de sucesso, a companhia “Vidas em cena” resolveu levar ao palco a vida e morte de um dos maiores empresários da história do concelho. A criação do texto ficou, uma vez mais, a cargo de Vítor Fernandes, jovem de 28 anos que também é o encenador deste projecto. “A pesquisa foi feita por mim e o texto para a peça é da autoria do Vítor Fernandes”, frisa Carvalheiras.

12 actores em palco

Os ensaios para “Isler” decorrem há cerca de seis meses. Primeiro de uma forma menos intensa e agora a um ritmo frenético. “No início do ano, os elementos da companhia de teatro juntam-se uma vez por semana. Depois do Verão os ensaios realizam-se duas vezes por semana até que na semana da estreia trabalha-se todos os dias”, revela José Carlos Carvalheiras.

Numa das salas da Assembleia Lousadense, 12 actores, amadores e semiprofissionais, decoram textos, ensaiam passos e optimizam o posicionamento em palco. Entre estes destacam-se Bino Borges, que interpretará Hans Isler, Avelina Vieira, que veste a pele da amante Marlene Lagniel, e Amério Pinto, no papel de António Gomes Ribeiro, o braço direito do suíço.

A peça da “Vidas em cena” tem um orçamento de 2500 euros, “um dos maiores de sempre”, e conta com o apoio da Câmara Municipal de Lousada e da FSM Confecções, empresa que comprou a marca “Kispo”.

O bilhete para as sessões marcadas para os dias 4 e 7 de Dezembro custam quatro euros.

Empresário, benemérito e agitador social

Dedicado ao sector têxtil na Suíça, o empresário nascido em Wadenswill, uma localidade nos arredores de Zurique, não encontrou neste país mão-de-obra suficiente para satisfazer as necessidades de produção da sua empresa e decidiu mudar-se para Lousada.

Nasceu assim, em 1969, a Fabinter Fábrica Internacional de Confecções, que teve as suas primeiras instalações nos fundos do antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Lousada. Nesta altura, tinha apenas 20 empregados, mas quando, um ano mais tarde, foi inaugurada a nova fábrica em Cristelos o número de funcionários era já de 110. Nos anos seguintes, o volume de produção foi aumentando e com ele o quadro de pessoal contratado. Em 1984, quando a Fabinter Fábrica Internacional de Confecções estava no apogeu, eram 630 os trabalhadores ao serviço da empresa suíça. A maioria destes eram mulheres, até então dedicadas, essencialmente, a trabalhos agrícolas e à lida da casa e que passaram a ganhar elevados salários para os padrões locais.

Para além de garantir emprego a centenas de pessoas, Hans Isler também esteve na origem da criação de diversas pequenas empresas, que subcontratava para responder rapidamente às encomendas vindas do estrangeiro.

Muito do sucesso empresarial de Hans Isler deveu-se à criação da marca “Kispo”. Estes anoraques produzidos em Lousada marcaram uma época e ainda hoje este tipo de vestuário é conhecido pelo nome da marca radicada em Cristelos.

A intervenção de Hans Isler em Lousada não se limitou ao sector empresarial. Benemérito, o suíço cedeu o terreno para a construção das 250 habitações do Bairro Dr. Abílio Moreira, apoiou a Banda de Lousada, uma das suas maiores paixões, e deu uma ambulância aos Bombeiros, contribuindo, de uma forma decisiva, para o desenvolvimento social do concelho.

Já depois de ter morrido em 1985 foi encontrado em casa com um tiro na cabeça Hans Isler recebeu a Medalha de Mérito Municipal e deu nome a uma das ruas da vila lousadense. Nesta altura, a Fabinter já estava a percorrer o caminho que a levaria a ser alvo de um processo de recuperação e vendida.