O caso é insólito e está a agitar os bastidores da coligação Penafiel Quer (PSD/CDS-PP): dois candidatos anunciaram, no mesmo dia, a candidatura à Junta de Freguesia de Termas de São Vicente — ambos dizendo falar em nome da mesma coligação. Um foi escolhido pela Comissão Política Concelhia do PSD, o outro alega ter sido convidado pelo cabeça-de-lista à Câmara Municipal. E até agora, ninguém esclareceu de forma objetiva quem, afinal, tem autoridade para decidir.
A 30 de maio, Isabel Soares, através do seu perfil pessoal no Facebook, anunciava: “Aceitei com honra e determinação o convite do PSD para encabeçar a lista da Coligação Penafiel Quer, após aprovação dos órgãos partidários competentes.”
Horas depois, já perto das 22h, Ricardo Coelho fazia o mesmo — mas com um detalhe que incendiou a polémica: “Aceitei o convite e conto com o apoio de Pedro Santana Cepeda, candidato à Câmara Municipal de Penafiel, pela Coligação Penafiel Quer, com quem partilho uma visão de futuro para o nosso concelho.”
O mais surpreendente veio depois da meia-noite, quando o próprio Pedro Santana Cepeda partilhou a publicação de Ricardo Coelho nas suas redes sociais, escrevendo: “Num tempo em que tantos se afastam da vida pública, é bom ver pessoas como o Ricardo Coelho continuarem disponíveis para servir a sua comunidade. […] É este espírito que queremos ao nosso lado: o de quem faz acontecer, com paixão e sentido de missão.”
Ou seja: temos dois candidatos, duas legitimidades e uma coligação que, aparentemente, quer tudo — mesmo que seja contraditório.
Comissão Política do PSD: Isabel é a candidata. Ponto final?
Confrontado pelo Verdadeiro Olhar, o presidente da Comissão Política Concelhia do PSD, Alberto Santos, foi taxativo: “A CPC de Penafiel confirma que, no exercício dos seus deveres estatutários, escolheu Isabel Soares para candidata da Coligação Penafiel Quer à Freguesia de Termas de São Vicente, escolha essa que recolheu a validação do competente órgão distrital do PSD.” E acrescenta_ “A situação relatada […] mostra-se definitivamente clarificada, resolvida e ultrapassada.”
Mas estará mesmo? Clarificada por quem? Resolvida com quem? A pergunta permanece: se a candidatura oficial é Isabel Soares, por que razão o cabeça-de-lista à Câmara elogia, valida e amplifica publicamente a candidatura de Ricardo Coelho?
Pedro Cepeda: “Serei sempre livre de partilhar o que quiser”
À pergunta direta — “Confirma que convidou Ricardo Coelho?” — Pedro Santana Cepeda não responde. Afirma antes que, até à data, a coligação apresentou apenas o candidato à Câmara e o mandatário, sendo que os restantes nomes serão revelados “em iniciativas públicas” e “de acordo com a estratégia definida pela Direção de Campanha”.
Cepeda também assume que é ele o “principal responsável pelos resultados eleitorais” e que conduzirá a campanha em articulação com os partidos da coligação e grupos independentes.
Quanto ao apoio público dado a Ricardo Coelho, despacha assim: “Sou e serei sempre livre de partilhar os conteúdos políticos, pessoais ou cívicos que considere relevantes, mantendo sempre o respeito institucional por todas as candidaturas.”
Quem manda afinal?
O que parece estar em causa vai além de uma candidatura a uma freguesia. A verdadeira questão é: quem comanda a coligação Penafiel Quer? Será o presidente da concelhia, eleito pelos militantes do PSD e responsável estatutário pelas escolhas locais? Ou será o cabeça-de-lista à Câmara Municipal, Pedro Santana Cepeda, que invoca legitimidade política para, aparentemente, decidir à margem dos órgãos do partido?
Neste momento, a coligação apresenta-se ao eleitorado de Termas de São Vicente com duas caras e dois discursos. E nem o partido, nem o candidato à Câmara, parecem querer dizer com clareza qual é a verdadeira.
Num concelho onde o PSD sempre cultivou a imagem de unidade e disciplina, esta disputa — que pode parecer local — expõe fissuras preocupantes. Em ano de eleições autárquicas, a coligação Penafiel Quer pode acabar a querer… tudo e a não conseguir nada.