Foi um momento de “partilha e valorização do trabalho desenvolvido na região Norte” aquele que aconteceu, ontem, no Auditório Municipal de Lousada, que foi palco de um balanço do trabalho feito na área da inovação social. Ao todo, já foram apoiados, por fundos comunitários e por investidores sociais, 694 projectos em todo o país, com 152 milhões de euros. São iniciativas que provocam “desenvolvimento social e económico” e que são “armas poderosas” para mudar vidas.

Só na região Norte, a “mais dinâmica”, foram financiados 277 projectos com 54 milhões de euros, sendo 37 milhões de fundos comunitários e 17 milhões dos investidores sociais, como empresas, fundações ou municípios. A Câmara de Valongo integra o “top 5” das autarquias do Norte que mais investiu em projectos de inovação social, num ranking liderado pela Câmara de Vila Nova de Gaia, foi divulgado. No Norte houve já 35 municípios a apoiar estas iniciativas, sendo 166 as câmaras do país que participaram.

“Não há coesão territorial sem a componente social assegurada” e este investimento tem “elevado impacto no território”, disse a Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que presidiu à sessão.

“Este é dos melhores investimentos que podemos fazer”

Foram apresentados vários projectos que são uma amostra do que tem sido feito no Norte, desde um projecto no Douro que procura garantir que as crianças de realidades mais fragilizadas não abandonem a escola, e que já chegou a mais de 200 crianças e quer crescer para outros concelhos; um projecto que já ensinou a milhares de alunos competências financeiras e os fez melhorar a Matemática; um projecto que através do teatro fez com que 15% dos 19 mil alunos da Área Metropolitana do Porto abrangidos melhorassem as notas a Português; ou um projecto de voluntariado que faz obras em casa de pessoas carenciadas procurando reconstruir vidas.

Todos estes projectos nasceram de respostas diferentes e inovadoras a problemas sociais.  

Dos mais de 150 milhões investidos em quase 700 projectos em todo o país, 101 milhões foram provenientes de fundos comunitários e 51 milhões de investidores sociais.

Estes investimentos são uma “arma poderosa” para mudar vidas e para a coesão territorial, foi defendido durante a sessão.

O presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, António Cunha, lembrou que, em alturas de crise económica e transição, há exclusão. “A inovação social é uma arma poderosa para a integração activa e sustentável, dando condições a idosos, adultos e crianças para consumar o seu potencial”, argumentou, sustentando que é relevante que essa experiência seja aprofundada e alargada.

O responsável pela CCDR-N afirmou que o Norte 2020 deu contributo relevante para estes projectos, tendo sido realizados 277 nas áreas da educação, inclusão social, saúde, emprego, cidadania ou inclusão digital, entre outros. Nasceram de 37 milhões de euros de fundos europeus a que se juntaram 17 milhões de euros de investidores nacionais.

“É preciso conhecer bem estas acções para programarmos melhor o ciclo de financiamento que se avizinha. O Norte 2030 continuará a apoiar a inovação social. Estamos comprometidos”, garantiu António Cunha.

Também a Ministra da Coesão Territorial, que presidiu à sessão “Inovação Social Região Norte”, realizada ontem, em Lousada, deixou garantias de renovação de apoios.

Ana Abrunhosa salientou que Portugal é “exemplo” e caso de “sucesso” europeu em Inovação Social e que a ideia é que estas práticas, que vêm dar respostas inovadores e diferenciadoras para novos e velhos problemas sociais, possam depois ser transpostas para as políticas públicas. “Deste projecto-piloto, uma espécie de laboratório, podem ser levadas para as políticas públicas práticas já testadas”, disse a governante.

“Quando pensamos em fundos europeus, é habitual associar a obras e a betão, a projectos de milhões, quando, muitas vezes, o mais importante e o que faz a diferença na vida das pessoas são estes projectos imateriais cujos efeitos no território demoram a sentir-se e não têm a visibilidade das grandes obras”, sentenciou a ministra. “Não há coesão territorial sem a componente social assegurada e trabalhada. Estes valores [o investimento feito] significam muito pouco face ao impacto no território. Este é dos melhores investimentos que podemos fazer”, garantiu, deixando o compromisso de “continuar a apoiar inovação social nas dinâmicas necessárias junto de Bruxelas e junto de outros membros do Governo para que continuem a haver os recursos necessários” e desejando que “grande parte destes projectos possam tornar-se em políticas públicas”. “No Portugal 2030 continuará a haver verbas para estes projectos inovadores e experimentais”, referiu.

Também Filipe Almeida, responsável pelo Portugal Inovação Social, defendeu que “a inovação social é um poderoso investimento no desenvolvimento social e económico” e que é “urgente e necessária”.  Apresentou ainda os números de projectos e investimento no país e no Norte.

“Não vai haver centros de dia em todas as freguesias, nem aqui nem em lado nenhum”

Na sua intervenção, o presidente da Câmara de Lousada falou dos projectos de inovação social do concelho, mas não deixou que lembrar a ministra de que “quando os municípios do Tâmega e Sousa dizem que precisam de uma atenção mais especial” e de mais recursos para a reabilitação urbana, numa “comunidade intermunicipal com muitas debilidades em alguns indicadores”, “é porque temos muitas pessoas e muitas necessidades”. “Há aqui municípios com mais população do que capitais de distrito”, deu como exemplo. “Há aqui uma dinâmica assinalável e quando pedimos recursos é porque precisamos deles e porque a população tem carências”, defendeu Pedro Machado.

Mas, frisou o também presidente da Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, a região não precisa só de obra e equipamentos e também destes projectos de inovação social.

Em Lousada, houve dois projectos apoiados, sendo que o do Movimento Sénior foi comparticipado pela Câmara Municipal. “Resultou de uma necessidade que sentíamos no concelho por falta de respostas sociais formais. Sentíamos necessidades ao nível dos centros de dia. Mas as pessoas às vezes pedem um centro de dia na freguesia sem ter noção do que é isso e do que essa resposta social implica. Não vai haver centros de dia em todas as freguesias, nem aqui nem em lado nenhum, nem faz sentido que assim seja”, alegou o autarca. “Mas fazem sentido estes projectos que são como uma sopa de pedra em que diversos parceiros dão um pouco do que têm e consegue-se criar uma resposta à medida das necessidades reais da população”, acredita.

É que, descreveu Pedro Machado, nesta região a população idosa ainda “vai tendo muita autonomia, que gosta de estar na sua casa e ir para o seu quintal e não quer estar fechada todos os dias num local, por melhores condições que tenha”. “As respostas de centro de dia são muito importantes, sem dúvida, mas há que criar respostas para aqueles que, duas a três vezes por semana, querem passar uma tarde noutro local e com actividades”, algo que foi conseguido com os Movimentos Seniores, com o apoio das juntas de freguesia, instituições sociais e voluntários.

“O programa acabou, mas a câmara vai continuar a assegurar a existência do Movimento Sénior. Há alguns projectos que mereciam reflexão para perceber se não deviam tornar-se respostas formais. Por vezes, com poucos recursos conseguimos criar soluções mais adequadas às verdadeiras necessidades já que as respostas formais são demasiado exigentes”, explicou.