Verdadeiro Olhar

Presidente de Junta de Louredo e líder do PSD Paredes de costas voltadas

Estalou o conflito interno no PSD Paredes. O presidente da Junta de Freguesia de Louredo, José Borges, eleito pelo PSD, diz que não tem sido convocado para as reuniões preparatórias das assembleias municipais pelo seu partido. Na última sessão votou sempre de forma contrária à dos eleitos do PSD. Nas redes sociais acusou a comissão política do PSD Paredes de prejudicar e discriminar Louredo. “O presidente do PSD Paredes, tem feito todos os esforços para provocar a divisão dos eleitos do PSD em Louredo, promovendo conflitos e até mesmo incentivando os eleitos do PSD a serem oposição ao executivo da freguesia”, escreveu, dizendo-se desconsiderado pelo partido, o que faz com que, a partir de agora, defenda os interesses de Louredo com uma “agenda própria, totalmente desvinculada da agenda partidária”.

Ao Verdadeiro Olhar, José Borges vai mais longe. Fala de uma comissão política, “impreparada e incompetente”, características que aponta sobretudo ao actual líder do partido, Ricardo Sousa. Diz ainda que esta estrutura de liderança tem “os dias contados”. Em resposta, o presidente do PSD Paredes diz que se há afastamento ele não está a ser causado por esta comissão política que tem mantido “portas abertas” a todos os militantes. Alega que não debate assuntos internos do partido em praça pública e muito menos possíveis convites para candidaturas à junta, quando ainda falta muito tempo para as próximas autárquicas. Garante antes que foi José Borges quem virou costas ao partido.

“Não alinhei ao lado deste presidente. Isso também desagradou”

José Borges venceu, pelo PSD, as últimas eleições autárquicas na freguesia de Louredo. Mas para a Câmara Municipal, o partido mais votado foi o PS. Nessa altura, conta, percebeu que tinha de respeitar a vontade do povo e fazer valer o respeito institucional com o novo executivo.

José Borges | Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Louredo, afirma, “tinha muitos problemas do passado para resolver e obras paradas” e os novos rostos do município foram sendo sensíveis aos seus pedidos, apesar da diferença partidária. “Ao ser beneficiado e ao ver resolvidos os meus problemas da freguesia senti-me na obrigação de, nos documentos estruturais, votar em coerência. Se eu tinha no orçamento contempladas as verbas necessárias para resolver os problemas que levei ao presidente de forma nenhuma poderia votar contra o plano de actividades ou orçamento ou umas contas”, explica. Isso já em 2018.

Foi aí que começaram os problemas diz. Embora já antes, reconhece José Borges, apoiou, internamente, nas eleições do partido, em meados do mesmo ano, a lista do opositor de Ricardo Sousa (Ricardo Santos). “Não alinhei ao lado deste presidente. Isso também desagradou”, e também não esteve presente na tomada de posse da nova comissão política, conta.

A par disso, as suas publicações nas redes sociais, divulgando as conquistas para a freguesia também terão feito mossa na relação com o partido. “Isto começou a não agradar ao meu partido, nomeadamente à nova comissão política que, no meu entendimento, é impreparada, incompetente e que não soube gerir esta situação”, critica José Borges.

Numa das últimas reuniões preparatórias da Assembleia Municipal de Paredes diz ter pedido para fazer uma intervenção. “Primeiro disseram que sim, depois o presidente da comissão política pediu que prescindisse por questões de tempo em favor de outra pessoa”, descreve. Fê-lo. Mas acabou por intervir na assembleia em causa, num outro ponto.

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“A opinião generalizada do partido foi que me vendi por 50 mil euros”

“Deixei de ser convocado para as reuniões preparatórias da Assembleia Municipal. Na primeira vez ainda me entregaram os documentos com a orientação de voto e eu aceitei, mas nessa sessão aproveitei a submissão de uma proposta do PSD para a reprovar com o meu voto. Fiz uma declaração de voto e disse que por ‘desconhecer os motivos que levaram o PSD a apresentar esta proposta, uma vez que não fui convocado pelo meu partido para a reunião preparatória desta assembleia, voto contra a admissão’”, recorda o militante do PSD.

Na última Assembleia Municipal, realizada em Setembro, voltou a não ser convocado e, desta vez, já nem lhe entregaram os documentos de orientação de voto. “Votei sempre contrário ao que o PSD fazia. Isto foi para dizer ao partido que não sou eu que preciso do partido, é o partido que precisa de mim”, sustenta o presidente da Junta de Freguesia de Louredo.

Critica ainda o facto de ter sido acusado de se vender por ter aceitado uma delegação de competências financeiras da Câmara de 50 mil euros para fazer obras. “A opinião generalizada do partido foi que me vendi por 50 mil euros. E então os outros presidentes de junta do partido que aceitaram delegações de competências, como Duas Igrejas ou Lordelo? Porque é que só eu é que me vendi?”, pergunta.

“Sou militante desde 1978 e nunca tive cargos de chefia, mas sempre trabalhei para o partido sem pedir nada em troca, só pelo amor à causa. Fui presidente da assembleia de freguesia durante 16 anos aqui em Louredo. Fui sempre interventivo na assembleia para atacar a oposição. Fui o maior opositor do PS no último mandato. Merecia outra consideração”, defende.

José Borges | Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Esta comissão política está a tempo parcial, com os dias contados”

José Borges diz ainda que a comissão política tem tentado dividir a sua equipa na freguesia. “Há um elemento que me tem criado problemas e tem sido por incentivo da actual comissão política. E já convidaram três amigos meus, aqui em Louredo, para candidatos, sem eu dizer se quero ou não ser candidato e se deixei de ser PSD ou se quero ser candidato pelo PSD, coisas que em que nesta altura ainda nem estou a pensar”, salienta o social-democrata. “Ou não me querem como candidato ou já me estão a pôr como candidato de outro partido, quando ninguém me pediu isso em troca dos benefícios que a freguesia teve até hoje”, frisa.

“Esta comissão política está a tempo parcial, com os dias contados. Toda a gente sabe que daqui por mais meio ano, ou isso, eles se vão embora e aparecem pessoas com interesse pelo partido. É tão mau o trabalho que estão a fazer. O nosso partido anda à deriva na Assembleia. Os nossos vereadores votam contra em reunião de câmara e mandam-nos votar a favor na Assembleia Municipal. Isto nunca aconteceu no passado. Há ali alguém com agenda própria, o que ficou provado neste acto eleitoral, quando o presidente da comissão política quis ser candidato a deputado. É uma vergonha para o PSD, partido que tem quadros excelentes, escolher uma pessoa com aquela incapacidade e impreparação para ser candidato a deputado num concelho com cerca de 90 mil habitantes”, alega José Borges.

O militante alega ainda que nos últimos dois actos eleitorais que o partido enfrentou no concelho houve “um descalabro” nos resultados conseguidos, com o PS a ficar por um triz de vencer na freguesia de Louredo, onde antes o PSD sempre ganhou com margens superiores a 500 votos.

“O povo de Louredo está muito desagradado com este PSD e eu estou desagradado com esta comissão política e com as pessoas do PSD que têm objectivos futuros e não fazem nada para travar isto”, comenta.

Segundo o presidente de junta, a partir de agora não vai aceitar orientações de voto, mas vai continuar a gozar do seu estatuto de deputado por inerência do cargo que ocupa. “Uma vez que estou a ser desrespeitado pelo partido vou votar mais em consciência e 100% ao lado de Louredo e 0% ao lado do PSD até ao fim do mandato”, anuncia.

Ainda assim, nega estar de costas voltadas para o partido. “Nunca vou deixar de ser PSD, mas estou muito desagradado com o PSD Paredes que não faz nada para mostrar ao concelho que é do PSD. O combate político que está a ser feito ao nível autárquico não tem nada a ver com o que estou habituado a ser feito no PSD”, aponta. Garante que ainda não sabe se será candidato e que ainda é cedo para falar disso. Neste momento, diz, “o PSD não me quer como candidato à junta de Louredo, mas pode mudar de ideias até lá”.

“Será mais correcto perguntar ao contrário: se há um afastamento do sr. José Borges em relação ao PSD”

Ricardo Sousa, actual presidente da comissão política do PSD Paredes, não tem a mesma visão do que tem acontecido.

Ricardo Sousa | Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Quando confrontado com um possível afastamento desta comissão política ao presidente de junta de Louredo, o líder do partido inverte a questão. “Será mais correcto perguntar ao contrário: se há um afastamento do sr. José Borges em relação ao PSD. E deve ser ele a dar essa resposta”, refere.

Segundo Ricardo Sousa, esta comissão política tem-se relacionado da mesma forma com todos os presidentes de junta, mantendo “portas abertas a todos” os militantes, ocupem ou não cargos políticos. “Não nos afastámos nem afastámos ninguém. Agora se perante certas circunstâncias algum militante achou que se deveria afastar, ainda para mais manifestando esse desejo publicamente e nunca junto dos órgãos do partido, não nos pode ser acarretada essa responsabilidade”, aponta.

Já sobre se esse afastamento está relacionado à aproximação ao executivo socialista e aos elogios tecidos por José Borges, Ricardo Sousa diz que não podem “deixar de constatar nas suas publicações uma certa injustiça para com os executivos camarários do PSD, que tanto fizeram em prol de Louredo e que não tiveram da sua parte o devido reconhecimento nas redes sociais”.

Ricardo Sousa também não assume que esta comissão política esteja a provocar divisões no PSD em Louredo. “Esta comissão política não trata de assuntos internos na praça pública e espera a mesma maturidade da parte de quem foi eleito pelo partido”, começa por criticar. “É natural que este trabalho acabe por envolver também outras pessoas, que são importantes pelo que vêm acrescentar, e não subtrair, muito menos para dividir”, acrescenta em relação ao trabalho que têm vindo a realizar em todas as freguesias.

Questionado, também não confirma que tenha abordado ninguém para ser candidato do partido em Louredo nas próximas autárquicas. “Pelo tempo que ainda falta para as eleições autárquicas, é prematuro falar de candidatos, muito menos de convites endereçados. Felizmente, o PSD tem excelentes quadros, pessoas capazes e Louredo, que foi e é PSD, não é excepção”, sustenta apenas. “O PSD não quer José Borges como recandidato nas próximas eleições?”, perguntamos directamente. “É prematuro falar de qualquer candidatura ou recandidatura, seja qual for a freguesia”, voltou a frisar.

“Se ele publicamente assumiu ter uma agenda própria, é porque não quer estar com o PSD”

Sobre o facto de José Borges não ser convocado para as reuniões preparatórias da Assembleia Municipal e para as reuniões da Comissão Política, Ricardo Sousa é peremptório. “A partir do momento em que o sr. José Borges resolveu ir para as redes sociais tornar públicas situações internas do partido, de forma enviesada, dando conta do seu afastamento do PSD, abstendo-se de participar em reuniões importantes, onde a sua presença era usual, entendemos que encara a sua participação no partido de forma intermitente, situação com a qual não compactuamos. Portanto, cabe-lhe a ele decidir se quer ser efetivamente um rosto do PSD ou não”, acusa.

Ricardo Sousa | Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

“Se ele publicamente assumiu ter uma agenda própria, é porque não quer estar com o PSD, devendo de aí ser retiradas as devidas ilações. Virar as costas ao partido, sem uma palavra com as pessoas certas nos locais devidos, é uma opção da sua inteira responsabilidade”, continua o presidente da comissão política.

Sobre a acusação de que a comissão política é “impreparada e incompetente”, Ricardo Sousa diz que não merece resposta, nem quando a leu nas redes sociais nem agora. “Talvez o facto de se ter afastado o tenha impedido de ver todo trabalho que tem sido realizado, num cenário claramente adverso em termos locais e nacionais. Pegar no partido na situação difícil em que se encontrava e conseguir realizar todo este trabalho de proximidade junto dos paredenses, afirmando o PSD como o rosto da oposição e de uma verdadeira alternativa não está certamente ao alcance de qualquer um”, comenta apenas.

Quanto ao “descalabro” que José Borges viu nos últimos resultados eleitorais, o presidente da comissão política garante que não o vê. “Tendo em conta os resultados eleitorais ao nível distrital e nacional, não podemos falar em maus resultados do partido. E em Louredo o PSD ganhou estas e até as eleições para o parlamento europeu. Mesmo com tantos louvores ao PS por parte do seu presidente da junta, facto que pode até confundir os eleitores, não conseguiram evitar a vitória social-democrata. Louredo é PSD”, salienta. Por fim, o líder do PSD Paredes não acredita que estes conflitos internos ponham em causa a conquista da freguesia de Louredo para o PSD nas próximas eleições.