Verdadeiro Olhar

Os “campeões” da Marcenaria são de Paredes e Paços de Ferreira

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

O feito não é inédito e a vitória até estava (quase) assegurada à partida. É que todos os concorrentes do Campeonato Nacional das Profissões na categoria de Marcenaria – seis – eram formandos do Centro de Formação Profissional das Indústrias da Madeira e Mobiliário (CFPIMM), situado em Lordelo, Paredes.

A competir entre colegas, Nicolas Silva, de 18 anos, conquistou a medalha de ouro, sagrando-se campeão nacional, Diogo Silva, de 18 anos, a prata, e Ricardo Moreira, de 17 anos, o bronze, nas provas recentemente disputadas em Portimão. O pódio foi todo para jovens que são de (ou moram em) Paredes e Paços de Ferreira, concelhos com tradição na área do mobiliário.

Os dois melhor classificados vão ainda disputar, entre si, a representação do país nos campeonatos da Europa, agendados para Setembro, na Polónia.

“Daqui já se sai formado com uma profissão. É uma porta aberta”

Foto: Worldskills Portugal

Foi há quatro anos que Nicolas Silva chegou do Brasil. Ele, a mãe e o irmão juntaram-se ao pai, que já estava no país, e vivem em Rebordosa, Paredes. Em 2020, ingressou no CFPIMM no curso de CNC – Técnico de Programação e Operação de Máquinas de Segunda Transformação de Madeira, o mesmo frequentado pelos outros colegas.

“Para ser sincero preferia ir para artes, mas só existiam cursos no Porto”, conta o jovem que, aconselhado por um amigo, acabou por escolher este curso. “Estou a gostar”, garante. Ainda assim, vê o futuro passar por outras vertentes. Quer, quando terminar este curso em Junho, ingressar no ensino superior, nomeadamente em Arquitectura, e tentar conciliar trabalho e estudos. “Daqui já se sai formado com uma profissão. É uma porta aberta” para o mercado profissional, acredita.

Foto: Worldskills Portugal

Diogo Silva, de Vilela, Paredes, já queria algo relacionado com madeiras e depois de se informar sobre a escola escolheu este curso. O pai é marceneiro, embora trabalhe na área da carpintaria. “Gostava de o ver trabalhar lá em casa e ele às vezes explicava-me o que fazia”, recorda o jovem. Daí resultou a vontade de seguir para a área. Escolheu o curso pela “curiosidade” e também pela ideia de conseguir um ordenado estável”, refere.

Natural de Penamaior, Paços de Ferreira, Ricardo Moreira, sempre gostou desta área, da marcenaria e da madeira, e de desenho, tanto à mão como digital. Como o irmão frequentou o CFPIMM, noutra área, isso também o motivou a vir para este centro de formação. “Escolhi esta área a pensar no futuro, porque é muito procurada e acho que é boa aposta”, explica.

Foto: Worldskills Portugal

Uma experiência diferente que traz conhecimento

Quando lhes falaram na ideia de integrar a competição do Campeonato das Profissões quiseram logo participar, por ser “uma experiência diferente” que permite ainda “adquirir conhecimentos”.

Enquanto os colegas foram de férias eles iam, muitas vezes, treinar, para poder competir. Começaram em Agosto. “Valeu a pena o sacrifício. Pelas experiências e pelas amizades criadas depois, no campeonato”, apontam.

Em Portimão, viveram uma semana fora de casa e foram um total de 22 horas de prova que trouxe “stress e muita aprendizagem”. Ensina a ter um plano B quando algo corre errado, acreditam.

Havia a expectativa de conseguir medalhas. A tarefa consistia em fazer um móvel, de raiz, mostrando diferentes técnicas e conhecimentos. “Eu fui com expectativas de ganhar”, não esconde Nicolas. “Mas sabia que não ia ser uma prova fácil porque todos temos as mesmas aprendizagens e competências”, acrescenta.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Diogo também tinha vontade de chegar às medalhas, mas admite que têm características diferentes. “Eu sou muito rápido, enquanto o Nicolas é perfeccionista”, diz, exemplificando: “Eu terminei 20 minutos antes e o Nicolas faltava um minuto”.

“Foi muito difícil. Nunca pensei ficar em terceiro lugar. Até me chegaram a vir as lágrimas aos olhos, pela pressão”, conta Ricardo Moreira. “Estávamos todos sob pressão”, concordam os colegas.

Apesar de todos os concorrentes serem do CFPIMM podia mesmo não ter havido medalhas. É que era preciso atingir a pontuação para isso acontecer. Por exemplo, nenhum recebeu medalha “de excelência”.

Foi só em cima do palco que perceberam quem trazia que medalha.

Vão disputar quem vai ao Europeu

Aprender a lidar com o stress pode ser uma mais-valia no mercado de trabalho, que está cada vez mais perto. É importante uma menção destas no currículo, defendem os jovens. É que além de saberem trabalhar com todo o tipo de máquinas também sabem fazer um móvel à mão, o que é cada vez mais incomum.

Foto: Fernanda Pinto/Verdadeiro Olhar

Nicolas e Diogo terminam o curso este ano. Também este ano os dois vão ainda disputar o acesso ao Europeu das Profissões. Como a vitória de Nicolas foi renhida, vão fazer provas, a 30 de Maio, para decidir quem embarca em mais esta aventura.

“Sempre competimos, é uma picardia saudável”, garantem. “Eu pretendo ir ao Europeu, vou treinar ao máximo”, avisa Nicolas. É que ir representar o país à Europa, numa prova muito mais difícil, pode ainda abrir portas à participação no mundial.  

Campeonatos visam demonstrar o nível individual de competências, rigor e domínio de técnicas e de ferramentas para o exercício de cada profissão

O Campeonato Nacional das Profissões realiza-se a cada dois anos e, em 2023, foi na Arena de Portimão que 364 jovens altamente qualificados competiram entre si, em mais de 50 profissões. Foram atribuídas 184 medalhas (de ouro, prata, bronze e excelência).

Foto: CFPIMM

Os campeonatos das profissões são competições dirigidas a jovens entre os 17 e os 25 anos, que concluíram ou se encontram a frequentar um percurso de qualificação, em modalidades de educação e formação profissional, e visam demonstrar o nível individual de competências, rigor e domínio de técnicas e de ferramentas para o exercício de cada profissão a concurso, através da realização de provas práticas de desempenho avaliadas segundo critérios exigentes e de acordo com prescrições técnicas estabelecidas internacionalmente por júris compostos de peritos altamente qualificados (formadores, profissionais, empresários). A meta é “aferir a eficácia da formação profissional ministrada pelos diferentes operadores, e, simultaneamente, induzir factores de crescente qualidade, inovação e criatividade nos processos de ensino-aprendizagem”.