Verdadeiro Olhar

O jornal entre aspas

Na segunda-feira, o VERDADEIRO OLHAR noticiou que o Ministério Público está a investigar a Câmara Municipal de Penafiel pela eventual prática de crimes de corrupção, abuso de poder e participação económica em negócio. Não é uma opinião. Não é uma “encomenda”. É um facto. Está escrito, preto no branco, no email que recebemos da Procuradora da República. E foi isso, e só isso, que noticiámos.

Ainda assim, o presidente da Câmara, Antonino de Sousa, decidiu reagir. Mas não com um pedido de direito de resposta, como é seu direito legal, e que, aliás, nunca exerceu nestes 12 anos de mandato. Optou antes por se vitimizar nas redes sociais, insinuando que o Verdadeiro Olhar não passa de um “jornal”, entre aspas, de Paredes, ao serviço de uma qualquer “campanha difamatória”. Pior: deixou no ar a ideia de que a notícia teria sido encomendada pela oposição. E ainda se queixou da foto, a dele, que ilustra a notícia.

Convém esclarecer, para quem anda distraído, que em mais de uma década de presidência de Antonino de Sousa, o VERDADEIRO OLHAR publicou mais de duas centenas de notícias sobre Penafiel. Dessas, quatro ou cinco, se tanto, foram particularmente desfavoráveis para a imagem pública do ainda presidente. E coitadinho, acha-se perseguido.

A título de exemplo, quando foi eleito pelo nosso jornal como “Personalidade do Ano”, partilhou a distinção com entusiasmo. Nessa altura, não éramos o “jornal de Paredes” nem um jornal “entre aspas”. Éramos, e somos, o jornal da região, com sede em Paredes. A diferença está na conveniência de quem lê.

Quanto à ideia de “encomenda”, para além de ser um insulto a quem aqui trabalha, é uma demonstração de quem não sabe conviver com o escrutínio. Antonino de Sousa parece daqueles políticos provincianos que ainda acreditam que a imprensa local deve ser um prolongamento da assessoria da Câmara. Que só se é bom jornalismo quando se partilham inaugurações, palminhas e sorrisos. Que um jornal sério não pode noticiar quando algo corre mal. E quando corre, a culpa não é de quem fez, é de quem contou.

Também se queixa da fotografia. Mas quem é, afinal, a cara da Câmara Municipal? O edifício? Não. A Câmara é um corpo político. É composta por eleitos. E o seu representante máximo, legal, civil e criminal, é o presidente. É ele quem assina os contratos. É ele quem responde. É ele quem representa a autarquia. É também a sua cara que a própria Câmara usa para divulgar inaugurações, anúncios e sucessos. Mas quando o tema não convém, já se quer esconder? Como se diz popularmente: para os elogios, o rosto. Para as responsabilidades, o edifício?

No fundo, o que parece incomodar Antonino de Sousa não é a notícia. É o facto de o jornal não o ter poupado. E não o poupou, porque não há nada para poupar quando se trata de um dever jornalístico claro: informar.

Por fim, sublinhamos um dado que o próprio presidente sabe bem, mas que tenta omitir: o VERDADEIRO OLHAR não inventou nada. Limitou-se a dar a conhecer o que o Ministério Público confirmou: há um inquérito a decorrer desde 2023 na 1.ª secção do Tribunal de Paredes, no qual se investigam os crimes referidos. Se o presidente se sente incomodado por a autarquia que dirige estar a ser investigada, deve falar com o Ministério Público. Ou, melhor ainda, deve garantir que nada fez que justifique essa investigação.

O VERDADEIRO OLHAR continuará a fazer aquilo que sempre fez: jornalismo. Com liberdade, com responsabilidade, com o mesmo rigor com que já noticiou medalhas, investimentos, elogios e homenagens ao mesmo presidente que agora tenta fazer de si uma vítima. Sem aspas.