Joaquim Bismarck Pinto Lopes, fundador e presidente do Grupo Pinto Lopes Viagens, morreu ontem, aos 81 anos. Natural de Cete, no concelho de Paredes, foi um dos nomes mais marcantes no mundo dos transportes e das viagens em Portugal. Durante décadas, transportou e viajou com milhares de turistas da região e do país, levando-os aos lugares mais recônditos do mundo e concretizando o sonho de muitas pessoas que, de outra forma, nunca teriam conhecido outros horizontes.
Apaixonado por viagens desde muito jovem, aos 20 anos fez a sua primeira grande aventura: uma volta pela Europa ao volante de um Fiat 600. Foi o início de um percurso que não mais abandonaria. “A primeira viagem foi uma viagem em campismo, com um grupo de amigos. Fiz muitas viagens assim, levávamos tendas, tachos e panelas e transportei muitas pessoas de Paredes”, recordava, em entrevista ao Verdadeiro Olhar em 2018. Daí em diante, seguiram-se o Algarve, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Checoslováquia, Hungria, Turquia e tantos outros destinos.
A ligação aos transportes corria-lhe no sangue, herdada dos antepassados. “Já o meu bisavô, quando o comboio começou a apitar em Cete, trazia tanto o correio como os passageiros de Castelo de Paiva, de S. Vicente, da Ribeira, da Calçada para Cete, para o comboio, em carruagens de tração animal, os designados coches. Inclusivamente, a ponte Hintze Ribeiro foi inaugurada por uma carruagem do meu bisavô”, contou, lembrando a longa tradição familiar.
Seguindo os passos do avô e do pai, começou a trabalhar na empresa Alpendurada logo após cumprir o serviço militar. Mais tarde, com a fusão de várias companhias de transportes, nasceu a Asa Douro, que chegou a servir 12 concelhos, de Lamego ao Porto, passando por Resende, Baião, Marco de Canaveses ou Cinfães. “Fazíamos os transportes escolares e as carreiras. Éramos uma empresa de referência, mas não recebíamos. Não pagavam. Então, optámos por vendê-la”, relatava com franqueza.
Em 1973 fundou a Pinto Lopes Viagens, que viria a tornar-se uma referência nacional. “Todos os anos fazia circuitos diferentes, ia à Noruega ao Cabo Norte, no ano seguinte à Finlândia e à ex-URSS, a países socialistas, alguns dos quais já não existem”, lembrava. A sua aposta era sempre em programas diferenciados, ousados, muitas vezes em destinos onde poucos acreditavam ser possível operar. “A última viagem que fizemos foi à Guiné-Bissau. Claro que não é qualquer agência que promove turismo para a Guiné-Bissau, mas tenho clientes que querem ir. Existe mercado. Fiz a viagem com lotação esgotada.”
O segredo do sucesso, dizia, era simples: “O que nos distingue dos demais operadores é o facto de vendermos o que já conhecemos. Já fui a Veneza inúmeras vezes, a Paris idem aspas. Conhecemos muito bem o mundo.” Antes de programar uma viagem, percorria o destino de carro, visitava parques de campismo, hotéis e locais de interesse. “Preparava tudo antes de fazer as viagens. Nos anos seguintes já não necessitava de lá voltar porque já tinha contactos. Hoje somos conhecidos e temos já uma certa visibilidade e projeção neste meio.”
Muitas das suas viagens ficaram-lhe gravadas na memória. A ex-Checoslováquia, a Bolívia, Praga, que considerava “uma das cidades mais bonitas do mundo” e, acima de todas, a ida à Antártida com o escritor José Rodrigues dos Santos. “Gostei muito de ir à Antártida. É uma viagem completamente diferente de todas as outras. Estamos a falar de um sítio onde não existem homens, onde as condições de vida são extremamente severas, onde existem apenas pinguins, aves, golfinhos, baleias e as lutas são titânicas entre os pinguins, com as aves a tentar rapinar-lhes os filhos.”
Ao longo das décadas, a Pinto Lopes Viagens cresceu, adaptou-se e diversificou a sua oferta. Abriu agências no Porto e em Lisboa, apostou em viagens culturais e de autor, acompanhadas por escritores ou fotógrafos. “A minha empresa não tem barreiras. Hoje em dia fazemos viagens para todo o mundo. Já há vários anos que promovemos viagens com autores e tem sido um sucesso. Quem viaja connosco gosta muito dos autores.”
Figura carismática, foi homenageado em vida pelo Rotary Club de Paredes. Nessa ocasião, confessou: “Esta homenagem apanhou-me totalmente de surpresa. Não fiz nada do outro mundo, mas obviamente que fiquei sensibilizado. Comecei com muitas dificuldades, fiz a travessia do deserto, a empresa cresceu paulatinamente, adaptei-me às novas tecnologias e hoje somos uma agência consolidada.”
Sempre discreto, dizia-se um homem realizado. Nunca abandonou a paixão pelas viagens nem a ligação à empresa familiar, onde os três filhos também colaboram. Participava ativamente na preparação de programas e gostava de acompanhar as expedições que nunca tinha feito.
Para muitos paredenses e clientes de todo o país, Joaquim Pinto Lopes ficará para sempre associado a um sonho: o de levar pessoas a conhecer o mundo.
Homem simples, visionário e apaixonado, Joaquim Pinto Lopes morreu ontem, aos 81 anos, deixando um legado feito de viagens, encontros e memórias que atravessaram continentes.