Em 1982, era tudo artesanal e a empresa, que nasceu como um passatempo, produzia meia dúzia de licores. Hoje, a Xarão – Companhia Portuguesa de Licores, localizada na Zona Industrial de Campo, em Valongo, tem um sistema mecanizado e produz 42 referências de marca própria, sendo as mais vendidas a groselha, a amêndoa amarga e o anis, exportando para vários países. No entanto, continua a manter-se como uma empresa familiar.
Em curso está um projecto de expansão das actuais instalações que vão dar à empresa maior capacidade de produção e armazenamento. Das suas instalações saem, anualmente, cerca de 1,5 milhões de garrafas de licores, destilados e xaropes.
Investimento de 500 mil euros vai permitir à empresa crescer
Tudo começou com Gaspar Monteiro e Bernardete Costa a produzir licores numas pequenas instalações situadas na rua da Ilha. O marido trabalhava numa empresa de produtos alimentares e viu no passatempo da mulher uma oportunidade de negócio. “Lançou a empresa de licores, mas manteve-se no emprego que tinha. Achou que ia ser um hobbie”, conta Hugo Monteiro, filho e administrador da Xarão.
Mas cedo o fundador da empresa percebeu que tinha que se dedicar apenas aos licores. “A empresa cresceu rapidamente e ele não tinha condições para ter dois empregos”, descreve o actual responsável pelos destinos da unidade empresarial, que sempre frequentava a empresa depois da escola.
A aposta foi sempre na qualidade e nunca no preço e os frutos surgiram. “Nascemos na Rua da Ilha, onde estivemos até 1996. Nesse ano as instalações começaram a ser pequenas. Fomos para as traseiras de Santa Justa. A partir dos anos 2000 a nossa necessidade por espaço apareceu e nunca mais desapareceu. Em 2004 houve uma necessidade de mudar e em 2009 viemos para aqui e já estamos com o problema de falta de espaço outra vez”, explica Hugo Monteiro. “Felizmente desta vez não vamos ter que mudar, vamos poder ficar aqui”, acrescenta.
É que a empresa já adquiriu terrenos à volta da actual fábrica que vão permitir aumentar o espaço em cerca de 2.500 metros quadrados de área coberta e 3.600 metros quadrados de área descoberta. O projecto já existe e vai avançar para licenciamento. “A solução era ter mais espaço físico para armazenagem e produção”. O investimento, a rondar os 500 mil euros, vai permitir “responder a mais solicitações comerciais e aumentar o volume de vendas, além de dar mais capacidade para retenção e negociar melhores preços em matérias-primas. Tudo isso vai trazer redução de custos”, garante o administrador.
Conseguem produzir 12 mil garrafas por dia
Em 1982, a empresa tinha três pessoas e era tudo feito de forma manual. “Os licores eram cheios com funis e houve um grande upgrade quando foi comprado um enchedor manual com seis bicos”, conta o responsável pela Xarão. Os rótulos eram colocados à mão, assim como as cápsulas. Produziam primeiro apenas três licores e depois uns sete a oito.
Assim continuou durante anos, com a primeira máquina a ser adquirida em 1997. Mas hoje a empresa é quase totalmente mecanizada. Isso muito se deveu à chegada da segunda geração da família à direcção da empresa e se deu “a junção entre o sangue na guelra dos mais novos e a experiência dos mais velhos”. Houve inovação em vários processos. “Vim para cá numa fase em que a empresa estava bem implantada na zona Norte e precisava de crescer para todo o país. O primeiro trabalho a que me dediquei foi criar condições para a empresa esticar até ao Algarve, esticar para as ilhas e esticar para o exterior”, refere Hugo Monteiro. Em 2010 começaram um processo de certificação que terminou em 2012. Era preciso diminuir os factores de risco. Por isso, montaram um sistema em que o contacto humano dentro da produção é quase nulo. “Temos o sistema de receitas automatizado, o sistema de engarrafamento automatizado com o único contacto humano a acontecer quando a garrafa não corre riscos, com o embalamento”, justifica.
Essa mecanização trouxe maior capacidade de produção e redução de custos. “Posso dizer que não aumentamos preços na empresa há cinco anos porque com a mecanização conseguimos fazer face aos aumentos de matéria prima e de energia”, adianta.
Actualmente, a empresa tem 17 funcionários, apenas cinco na parte produtiva, que mantém duas linhas de produção a funcionar. “É o suficiente para a empresa trabalhar”, garante o empresário.
A capacidade de produção é de 12 mil garrafas por dia. Produzem cerca de 1,5 milhões de garrafas de licores, destilados e xaropes por ano e, em 2017, a facturação foi de 1,5 milhões de euros.
Têm 42 referências de marca própria e outras tantas de marcas de clientes para quem produzem.
Em Portugal, a groselha é o produto mais vendido. Lá fora é a Amêndoa Amarga.
Com as mudanças introduzidas veio também a exportação, a partir de 2012. “Era uma altura de crise, mas não foi tudo negativo. Nós crescemos nos anos da crise. A crise fez-nos aperfeiçoar”, acredita Hugo Monteiro. Começaram pelo Brasil, pela facilidade da língua. Seguiram-se o Paraguai e o Canadá. Depois voltaram-se para a Europa, em países como França, Alemanha, Polónia, e a seguir foram para África, para países como Angola, Moçambique, Guiné Bissau e Cabo Verde, mas também Swazilândia. Estão actualmente em 16 países, incluindo a China, e estão em vias de entrar no mercado norte americano.
“Os rótulos da Amêndoa Amarga, que é o produto que mais se vende, tiveram que ser em mandarim e tivemos que tirar os brancos dos rótulos porque é a cor do luto chinesa”, dá como exemplo. Estão também a tentar entrar no Vietname. Mas também , confessa, não podem ir para novos mercados sob pena de não conseguirem ter produção para fazer face às encomendas.
“O nosso objectivo no fim deste ano é exportar 20%”, resume. Em Portugal, a groselha é o produto mais vendido. Lá fora é a Amêndoa Amarga.
“O homem dos licores de Valongo”
O grande objectivo da empresa passa agora por aumentar as instalações. “Queremos subir as vendas, mas só conseguiremos se tivermos espaço e queremos reduzir os custos em cerca de 10%”, explica Hugo Monteiro.
Estão também a fazer um rebranding da marca, uma coisa simples, só para homogeneizar e modernizar, até porque, afirma, há produtos intocáveis em termos de imagem.
“Então comecei a dizer que era de Valongo e hoje dou por mim, muitas vezes, a parar de falar de licores e a explicar que Valongo tem lousas, tem pão, tem regueifa e biscoitos…”, continua.
“Neste momento, a qualquer lado que eu vou, quando me perguntam, sou de Valongo. Valongo nunca foi um handicap e sinto até algum prazer em apresentar Valongo junto com os licores. Apresento Valongo e os licores de Valongo e as pessoas começam a dizer ‘olha o homem dos licores de Valongo’”, brinca Hugo Monteiro.