Verdadeiro Olhar

Gestores acusados de insolvência dolosa de uma das marcas referência da Capital do Móvel

Aquela que já foi uma das marcas referência da Capital do Móvel está no centro de um processo judicial em que os gerentes de uma empresa de produção e comercialização de móveis estão acusados do crime de insolvência dolosa. Segundo o Ministério Público (MP), a família que criou a marca “Centímetro Mobiliário em Madeiras Maciças e por Medida” diminuiu “ficticiamente o activo patrimonial da sociedade” com o objectivo de “evitar o pagamento das dívidas da sociedade Intemporalidades, Decoração de Interiores, Lda.” aos trabalhadores e ao Estado português.

O caso, que envolve sete arguidos, está a ser julgado no Tribunal de Penafiel.

 

Marca “Centímetro” passou por várias empresas

Esta “estória” começa com a fundação da J. Gonçalves, Lda. em 1989. A empresa de Paços de Ferreira dedicou-se, desde o início, à produção e comercialização de móveis e, em 2004, criou a sua própria marca: a “Centímetro”.

Mas, no ano seguinte e numa altura em que a empresa era detida pelas filhas, e respectivos maridos, do casal fundador, a J. Gonçalves, Lda. foi declarada insolvente. No entanto, quando tal aconteceu, a marca “Centímetro” já tinha sido cedida à sociedade Intemporalidades – Decoração de Interiores, SA, entidade criada dois meses antes pela mesma família que administrava a J. Gonçalves, Lda. No contrato firmado entre as duas empresas, a J. Gonçalves, Lda também cedeu à Intemporalidades – Decoração de Interiores, SA o direito de arrendamento das lojas que detinha no Porto, Matosinhos e Lisboa, assim como vendeu todos os móveis existentes nesses espaços comerciais.

Já em Dezembro de 2008, a Intemporalidades – Decoração de Interiores, SA foi transformada numa sociedade por quotas, mas ficou na posse dos mesmos donos. Segundo a acusação consultada pelo VERDADEIRO OLHAR, ainda no final de 2008, os arguidos “decidiram descapitalizar esta sociedade, tornando-a, assim, insolvente e evitando o pagamento de dívidas contraídas junto da Segurança Social, trabalhadores e ainda à J. Gonçalves, Lda., decorrente da falta de pagamento da integralidade do preço da cedência da marca “Centímetro”, no valor de 263 mil euros”.

Já a 14 de Abril de 2009, um dos membros da família que detinha a Intemporalidades – Decoração de Interiores criou a Antunes Freitas de Noronha Unipessoal, Lda. Neste mesmo dia, esta empresa compra a marca “Centímetro” por 5 mil euros e todo o recheio da Intemporalidades – Decoração de Interiores por quase 20 mil euros. Porém, alega o procurador, este dinheiro nunca deu entrada na Intemporalidades – Decoração de Interiores, que foi declarada insolvente em Julho de 2009.

Para o MP, não havia razões para a Intemporalidades – Decoração de Interiores ter sido declarada insolvente, visto que apresentou “um ritmo crescente de proveitos”, os custos financeiros não eram significativos e os “valores do activo foram sempre superiores ao passivo”. O único motivo, alega, foi evitar o pagamento das dívidas acumuladas.