Verdadeiro Olhar

Envelhecemos. E ninguém parece preocupado.

O índice de envelhecimento da nossa região é um espelho de um país que adia há décadas uma discussão séria sobre demografia, coesão territorial e políticas públicas com visão de futuro. Os dados publicados no mês passado pela PORDATA, e que o VERDADEIRO OLHAR analisou em detalhe, deviam preocupar-nos a todos — cidadãos, autarcas e decisores políticos. Mas não. Envelhecemos. E ninguém parece verdadeiramente preocupado.

Entre 2000 e 2023, o número de pessoas com 65 anos ou mais por cada 100 jovens até aos 15 anos triplicou na nossa região. Leu bem: triplicou. Em Valongo, há hoje 156 pessoas com 65 ou mais anos por cada 100 jovens. Em Penafiel são 149. Lousada, que é o concelho “mais jovem”, já tem 125. É uma tendência clara, persistente, inegável. E ainda assim, quantas vezes vemos este tema em discussão séria nos debates políticos locais? Em que reunião de câmara, de assembleia municipal ou conferência local se fala, sem rodeios, da bomba-relógio que temos nas mãos?

O problema não é apenas estatístico. É estrutural. A cada ano que passa há menos jovens para alimentar o sistema produtivo, para gerar riqueza, para manter os serviços a funcionar, para cuidar de quem envelhece. E são esses mesmos jovens que, perante a falta de oportunidades, fogem para os centros urbanos ou para o estrangeiro. Valongo, Penafiel, Paredes, Paços de Ferreira e Lousada vão, ano após ano, esvaziando-se de juventude. E com isso esvaziam-se de futuro.

É natural que a população envelheça. Mas não é aceitável que o país e a região não se preparem para isso. Onde estão os planos intermunicipais de envelhecimento ativo? Onde estão os incentivos à fixação de jovens casais? Onde estão as medidas para atrair ou manter famílias? Onde estão as creches públicas que faltam em tantos lados? Onde está o debate sobre a reorganização dos serviços de saúde e de apoio social para responder ao tsunami demográfico que aí vem?

A ilusão do crescimento económico e da melhoria dos indicadores de bem-estar não pode esconder esta realidade brutal: estamos a perder população jovem e a envelhecer a um ritmo galopante. E se nada for feito, vamos pagar o preço — mais cedo do que muitos pensam.

Este é um tema incómodo. Não dá votos e não mobiliza paixões. Mas devia. Porque se há assunto que devia estar no centro do debate público, é este.

Envelhecemos. Mas ainda vamos a tempo — se quisermos.