Verdadeiro Olhar

Devoção atrai milhares ao Santuário de Santa Rita em Ermesinde (C/VÍDEO)

Foto: Fernanda Pinto/ Verdadeiro Olhar

Todos os dias há quem transponha as portas do Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, da Mão Poderosa e de Santa Rita, em Ermesinde, à procura de apoio ou para fazer um pedido àquela que é conhecida como “a advogada das causas impossíveis”. Ao fim-de-semana são centenas a acorrer ao Santuário Diocesano, onde também é venerado São João Paulo II, “um santo dos nossos dias”. Uma das missas é mesmo apelidada de “missa dos coletes amarelos” tal o número de peregrinos que ali chega.

As duas grandes celebrações acontecem a 22 de Maio, dia de Santa Rita, e no segundo domingo de Junho, quando se realiza a romaria em seu nome. Fora disso estão agora instituídas peregrinações mensais para proporcionar melhor acolhimento aos milhares de pessoas que vêm ao templo anualmente.

“É sem dúvida um dos santuários mais procurados do Norte do país”, diz o padre Samuel Guedes, reitor do Santuário de Santa Rita desde Julho de 2018, falando da importância de ali também proporcionarem momentos de cultura e formação pastoral.

 Vida difícil sem nunca perder a fé

Uma vida difícil, cheia de provações que sempre ultrapassou sem nunca perder a fé e a vontade de devotar a vida a Cristo, valeu a Rita de Cássia o título de santa.

Nascida em 1381, a num pequeno povoado chamado Roccaporena, perto de Cássia, em Itália, Santa Rita desde jovem mostrou devoção e na juventude quis entrar para um convento, mas os seus pais decidiram casá-la.

“Esta jovem queria dedicar-se ao Senhor, mas não conseguiu isso na juventude. Aceitou a vontade dos pais e casou com alguém que tinha posses, mas que tinha um temperamento difícil. Viveu aqueles anos todos com dificuldades, ele era extremamente violento”, descreve o padre Samuel Guedes. Apesar de maltratada, Santa Rita sempre foi obediente e acabou por conseguir mudar o comportamento do marido. “A sua entrega total na oração pedindo ao Senhor que convertesse o coração do marido foi conseguido. Ele converteu-se, mas ficaram as marcas da violência na relação que ele tinha com as pessoas e foi assassinado”, resume o reitor do Santuário de Santa Rita.

Foto: Fernanda Pinto/ Verdadeiro Olhar

Nessa altura os dois filhos quiseram procurar vingança. “Foi outra dor muito grande para Santa Rita. Ela não descansou enquanto não libertou os seus filhos desse sentimento de vingança. Ela própria, em oração, dizia que antes queria que Ele levasse os seus filhos do que os ver a vingar a morte do pai”, diz o pároco. Os filhos acabaram por falecer vítimas de doença e Santa Rita ingressou então num convento, dedicando por fim, como sempre quis, a vida a Deus. Morreu com 76 anos, em 1457. São-lhe reconhecidos vários milagres.

“Tantas pessoas aqui acorrem a esta Santa e noutro lugares do mundo. Santa Rita é venerada em muitos lugares por este caminho tão perfeito, como jovem, como esposa, como mãe e como religiosa”, refere o padre Samuel Guedes. “Por este percurso de entrega ao Senhor, por conseguir converter alguém que era difícil e também evitar que os seus filhos fizessem um caminho de violência e de sangue como estava a ser previsto. Ela conseguiu na sua própria vida, com a força da oração, que esses milagres acontecessem. É por isso que lhe chamam a santa das causas impossíveis”, aponta o reitor do Santuário.

Santuário com 270 anos

Acabaria por ser canonizada apenas em 1900. Mas já antes o culto se espalhava por Itália, Portugal, Espanha e Brasil.

O Santuário de Ermesinde remonta ao século XVIII, mais concretamente 1745 data em que foi feita uma doação aos frades eremitas de Santo Agostinho. “Essa doação tinha como obrigação tomarem posse imediata deste santuário, o que aconteceu, mas foi impugnada. Graças à decisão que D. João V tomou, a favor dos Frades Agostinhos, houve o seguimento da construção, o que aconteceu em 1749, quando fizeram a bênção da primeira pedra”, conta Samuel Guedes. “Celebramos a 12 de Outubro de 2019 os 270 anos. Estamos a celebrar uma espécie de jubileu este ano”, sustenta.

Em 1956, D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, declarou o espaço como “Santuário Diocesano”, com o título de Nossa Senhora do Bom Despacho, da Mão Poderosa e de Santa Rita.

Logo à entrada da Igreja deste Santuário à uma capela dedicada a Santa Rita. Mas não é a única ali venerada. “Decidiram os meus antecessores que aqui se venerasse também São João Paulo II. Podemos dizer que é um santo dos nossos dias”, explica o reitor do Santuário.

A Igreja conta com uma imagem do Papa e são muitos que ali acorrem trazendo “velas, flores e promessas”. “Nestes dois altares de Santa Rita e de São João Paulo II acontecem momentos de alguma profunda oração”, garante o sacerdote.

Ali existem duas relíquias, uma de Santa Rita e outra de São João Paulo II. Esta última, uma relíquia biológica, um pedacinho de cabelo, foi entronizada no ano passado. “A relíquia ainda não está exposta à veneração do público, mas vai estar acessível no futuro”, adianta o padre Samuel Guedes.

“No dia em que foi entronizada a relíquia de são João Paulo II estimamos que passaram por este Santuário cerca de 3.000 pessoas”

Foto: Fernanda Pinto/ Verdadeiro Olhar

Anualmente, o Santuário de Santa Rita é procurado por milhares de pessoas, numa tendência que é de crescimento. “Depois do de São Bento da Porta Aberta, é sem dúvida um dos santuários mais procurados do Norte do país”, afirma Samuel Guedes.

“Se viermos por essas ruas aos domingos e aos sábados de manhã vemos muitos grupos a pé que vêm aqui para fazer a sua peregrinação”, lembra.

O número aumento nos dias festivos. “No dia em que foi entronizada a relíquia de são João Paulo II estimamos que passaram por este Santuário cerca de 3.000 pessoas. Outros dias com maior impacto na devoção a Santa Rita têm números superiores. Mas todos os dias passam por aqui muitas pessoas para fazer a sua oração na Igreja ou junto do altar de Santa Rita”, descreve o sacerdote.

O Santuário está aberto todos os dias, das 7h30 da manhã às 19h00, com eucaristia diária. “Ao domingo, às 7h30, há a missa do peregrino. Costumo chamar a essa missa a dos coletes amarelos, porque as pessoas vêm a pé e vêm com os seus coletes por causa do trânsito, e normalmente está o Santuário cheio. Às 8h30 há outra eucaristia e na missa das 10h00, a missa oficial do Santuário, está também repleta a Igreja às vezes com as portas abertas e gente até lá fora”, realça o padre Samuel Guedes.

Essa afluência de pessoas, levou o Santuário a fazer peregrinações mensais para quem não pode vir a 22 de Maio. “Assinalamos o dia 22. Se ocorre ao domingo ou, se ocorre à semana, no domingo a seguir, é dia de Santa Rita no Santuário. Celebramos a eucaristia solene e damos a bênção com a relíquia de Santa Rita”, explica o reitor do Santuário Diocesano.

Foto: Fernanda Pinto/ Verdadeiro Olhar

A par disso, há uma aposta no acolhimento aos peregrinos. “Estamos a fazer um trabalho cuidado a todos aqueles que chegam. Ao domingo temos um grupo de voluntários, por exemplo, que acolhe os peregrinos que vêm a pé e que, com a ajuda da Cruz Vermelha, ajudam com dificuldades nos pés e com uma bebida quente”, diz.

Outra aposta tem sido organizar momentos de cultura e actividades de formação. “Aqui temos feito alguns concertos e temos um dos melhores órgãos de tubos da Europa e temos momentos de formação na área da pastoral. O encontro com Deus não se faz só na oração. Faz-se na arte, na cultura e no saber”, acredita, adiantando que é objectivo criar uma equipa que coordene essas actividades.

“Achamos importante que um Santuário que acolhe tantas pessoas tenha uma oferta variada para que as pessoas possam ainda enriquecer mais a sua fé, a sua cultura, e ao mesmo tempo a sua identidade cristã”, defende Samuel Guedes.

No futuro, o Santuário terá de sofrer algumas obras de conservação e restauro e apostar em criar mais estacionamento, devido a esta elevada procura, assume o reitor.