Aletria, feita com coco e açucar mascavado, pão com marmelada, amor e uma grande vontade de ajudar é o que o ciclista Joaquim Aires leva nos bolsos entre Lousada até Roma, semprte a pedalar, num percurso de 2700 quilómetros e que serão realizados em 15 etapas. O objetivo passa por angariar verbas, através de uma campanha de crowdfunding, que apoiem a Associação Nacional de Esclerose Múltipla (ANEM).
Eram cerca das 9h30 da manhã de hoje, quando o sapador bombeiro subiu para a sua bicicleta, junto ao edifício dos Paços de Concelho de Lousada com rumo à Praça de São Pedro, no Vaticano, em Roma. Esta não é a primeira vez que este ciclista, natural de Lousada, participa numa ação semelhante. Em 2023 também fez a ligação em bicicleta de Lousada a Paris, tendo conseguido angariar nove mil euros que foram encaminhadas para instituições da sua terra.
Hoje, dois anos depois, volta a desafiar o corpo e o coração e propõe-se ligar todos os corações do país, em prol de quem sofre se Esclerose Multipla (EM). Convém, desde já, referir que esta é uma doença crónica, autoimune e inflamatória do sistema nervoso central e quye afeta cerca de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portuigal estima-se que existam 8000 casos. Pode manifestar-se de várias formas e com diferentes sintomas, como fraqueza muscular, problemas de equilíbrio, de coordenação, de fala e deglutição, cansaço excessivo, assim como de visão, para além de dores.
Joaquim Aires é sensível a esta doença tendo ido buscar a inspiração para este ato heróico a um amigo de longa data que sofre com esta patologia, como adiantou ao VERDADEIRO OLHAR. “Sei o que o ele sofre, conheço as difucldades que estas pessoas têm”, por isso, achou que seria “bom dar visibilidade a esta causa e ajudar estes doentes”.
Numa primeira fase entrou em contacto com a ANEM e, a partir daí, “foi sempre a rolar, até chegarmos a este dia”, disse, a sorrir. O ciclista defende que “é deveras importante que consiga levar esta marca às portas das pessoas” e nada melhor do que o ciclismo para o fazer, considerou.
Apesar de não saber ao certo em que diz chegará a Roma, porque “podem acontecer percalços”, mas espera “cruzar a meta” por volta do dia 29 de agosto. Joaquim Aires tem 38 anos e a 17 de agosto faz 39. Apesar de estar na estrada, espera que todo o país se una e seja solidário com esta causa e que seja possível angariar, pelo menos, 25 mil euros, o que poderá ser feito atravês da Give Me crowdfunding.
“Bicicleta deu-me a liberdade que me foi roubada” – Maurício Moreira, doente com Esclerose Múltipla há 16 anos
A fonte de inspiração de Joaquim Aires estava também esta manhã junto à Câmara Municipal para ver o ciclista partir nesta “missão”. Ao VERDADEIRO OLHAR, Maurício Moreira contou que ficou muito “sensibilizado” com esta ideia, mas é algo que não estranha, dado o coração do seu amigo de muitos anos. Natural do Porto, conta-nos que trabalhava em restauração, mas há sete que deixou de o fazer, porque a doença já não lhe permitia ter uma atividade profissional. Em cima da bicicleta, Maurício confessa que já tem “muitas dificuldades em andar”, mas as duas rodas dão-lhe “um pouco de saúde”. E a prová-lo está o facto de ter pedalado do Porto a Lousada para ver Joaquim Aires partir, com destino a Roma.
“A bicicleta é o meu andarilho”, diz a sorrir, reconhecendo que “ainda está muito bem”, apesar de desconhecer o dia de amanhã.
“Esclerose Múltipla não é um fim, mas a adaptação a um novo começo” – Ricardo Fonseca, presidente da ANEM
Ricardo Fonseca é presidente da ANEM e desejava apenas que existissem “muitos Joaquins por esse país fora, porque toda a ajuda é necessária, não só pela parte monetária, mas para dar a conhecer uma doença que ainda é desconhecida para muitos”.
Com 38 anos e natural de Gondomar, foi diagnosticado com EM aos 27 anos, quando estava “no auge da carreira profssional”. Recorda que, naquele dia, “todos os sonhos que tinha foram por água abaixo”. Depois disso, seguiu-se um caminho onde teve que “entender e aceitar a doença que não é um fim, mas uma adaptação a um novo começo”. Sobre os sintomas, confessa que variam de doente para doente, mas o “stress potencia” todas as limitações desta doença que teima em desgastar o corpo. Ricardo tem um olhar triste, mas cheio de esperança na vida, na sua vida e de tantos outros que sofrem com esta doença.
E neste mundo onde “a vida é adaptada a cada dia” e onde não se pensa no amanhã, Ricardo fala também da depressão, comum a pessoas que sofrem de EM e que, diariamente, “têm que encontrar, a cada momento, a melhor versão delas mesmas”. Mas, muitas vezes, o caminho é sinuoso demais e o cérebro, que “é uma máquina imensa”, também não ajuda. Preso a um mundo de contradições, onde vive e pretende baralhar as contas a esta doença, não deixa de ver Joaquim Aires com uma centelha.
Vendedor de matriais de construção, tentou contrariar todas as teorias e resistir e trabalhou “até não poder mais”, sendo que, atualmente, está reformado. A mulher é empresária e Ricardo dá-lhe o apoio que pode, na área da informática, através de casa.
A Covid limitou-lhe a vida a uma cadeira de rodas, porque não conseguiu fazer fisioterapia, essencial para lhe dar mais algum tempo de mobilidade.
Mas, e ante de isso acontecer, , a vida limitada à cadeira de rodas, Ricardo lamenta que Portugal “seja um país onde as coisas são feitas para pessoas capazes. Há falta de rampas, só se vêm degraus por todo o lado, ao contrário do que acontece com outras cidades da Europa”. Aliás, confessa ao VERDADEIRO OLHAR, que o único local onde consegue sair com a família é quando vai ao shopping.
Pais de Joaquim ficam com coração nas maõs durante esta viagem. A mãe só pensa em abraçá-lo para lher dar força