Candidaturas a mais, liderança a menos

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Há muito que é público e notório o mal-estar entre Alberto Santos, presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Penafiel, e o atual presidente da Câmara, Antonino de Sousa. Uma relação envenenada pelo tempo, por guerras antigas e, sobretudo, por ambições incompatíveis. Era previsível que, mais cedo ou mais tarde, esta tensão rebentasse. E rebentou – no seio da coligação Penafiel Quer, onde agora ninguém sabe bem quem quer o quê.

Quando se percebeu que Alberto Santos seria o candidato natural da coligação PSD/CDS-PP à Câmara Municipal, Antonino de Sousa pôs a máquina a trabalhar – não para apoiar o seu partido, mas para atacar o seu próprio presidente de concelhia. E fê-lo com subtileza: começou a preparar, nos bastidores, a candidatura independente de Pedro Santana Cepeda, figura que o próprio Antonino ajudaria a fazer emergir como alternativa interna.

Com a nomeação de Alberto Santos para Secretário de Estado da Cultura, abriu-se caminho para Pedro Cepeda assumir o lugar de candidato da coligação. Até aqui, tudo dentro das regras do jogo. O problema é que o jogo já ia a meio, e Cepeda – ou melhor, os que o rodeiam – já tinham distribuído promessas, convites e lugares a potenciais candidatos às juntas de freguesia. Sem articulação com o partido. Sem aprovação da concelhia. Sem pudor.

O caso mais flagrante – e escandaloso – é o de Termas de São Vicente. A Comissão Política do PSD escolheu Isabel Soares para encabeçar a lista à junta e viu a sua decisão validada pela distrital. Mas, no mesmo dia em que Isabel anunciou a sua candidatura, Ricardo Coelho aparece também como candidato – dizendo-se convidado por… Pedro Santana Cepeda. E o próprio Cepeda não desmente: elogia-o, partilha a candidatura e alimenta a confusão. A pergunta impõe-se: afinal, quem manda nesta candidatura? O partido ou o candidato? A concelhia ou o Facebook?

Este episódio não é isolado. O que está a acontecer em Termas de São Vicente está a acontecer em várias freguesias. O resultado é uma coligação em guerra surda, com dois comandos, dois discursos e um único destino que pode levar ao desastre.

A pergunta que muitos fazem, mas poucos têm coragem de colocar em voz alta, é simples: Pedro Cepeda percebe o que está a acontecer? Ou está apenas a cumprir, sem questionar, o plano traçado por Antonino de Sousa – plano esse que tem como único objetivo sabotar o PSD por dentro, destruir a liderança de Alberto Santos e, se possível, preparar terreno para mais uma reinvenção política de Antonino, que tanto foi CDS, como independente, como PSD, e que, com um pouco de sorte, ainda poderá vir a ser qualquer coisa diferente. A ver vamos.

Se o comportamento errático e vingativo de Antonino de Sousa já não surpreende ninguém, o mesmo não se pode dizer de Pedro Cepeda. Militante do PSD desde jovem, conhecedor do funcionamento interno do partido e do seu espírito coletivo, Cepeda deveria ser o primeiro a defender a coerência, a disciplina e a unidade. Em vez disso, cede à pressão de quem lhe ofereceu os cordelinhos, esquecendo que os votos não se compram com promessas feitas nos bastidores, mas com credibilidade e clareza perante os eleitores.

Penafiel Quer ser um projeto ganhador. Mas precisa de saber, primeiro, quem o lidera. Porque neste momento, com duas vozes a dar ordens, o que a coligação transmite é desorientação, fragilidade e desunião. E ninguém vota em quem não sabe para onde vai.

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