A Câmara Municipal de Paços de Ferreira vai gastar 744.858,40 euros em viagens de avião, destinadas a alunos do 4.º ano do ensino básico e a idosos do concelho. O valor consta de um concurso público internacional, lançado pelo presidente da autarquia, Paulo Ferreira, no passado dia 8 de abril de 2025, e que foi adjudicado na semana passada.
O dado mais surpreendente: mais de meio milhão de euros — concretamente 555.966,70 euros — vão ser usados para levar 2.200 seniores até Lisboa, de avião, para visitarem a Assembleia da República.
Quase 557 mil euros para um passeio a Lisboa
O concurso foi dividido em dois lotes. O primeiro, no valor de 187.891,70 euros, prevê a organização de uma viagem de finalistas para 464 crianças do 4.º ano, com viagem de avião até Faro, transporte e refeições incluídas, além da entrada no Zoomarine.
Mas é o segundo lote que mais surpreende e levanta questões. São quase 557 mil euros destinados a levar idosos do concelho — 2.200 pessoas — num passeio de avião Porto–Lisboa–Porto, com almoço na Assembleia da República e lanche no Padrão dos Descobrimentos. Tudo num só dia.
Paulo Ferreira justifica: “É uma opção política”
Contactado pelo VERDADEIRO OLHAR, o presidente da Câmara, Paulo Ferreira, defende que estas viagens “resultam, desde a primeira hora, da opção política deste executivo e do seu programa eleitoral”.
Diz ainda que “foi sempre entendimento deste Executivo Municipal que, além das obras físicas […] proporcionar novas vivências a todos os concidadãos, sem exceção, sobretudo a estas duas faixas etárias relevantes: a infância e a terceira idade.”
Quem pode ir? E quanto custa aos passageiros?
Segundo a autarquia, podem participar todos os seniores reformados com mais de 65 anos residentes no concelho, desde que tenham condição física e manifestem vontade de se inscrever. A viagem não é totalmente gratuita: os seniores com Cartão Municipal Sénior pagam 15 euros, os que não têm cartão pagam 20 euros, e os acompanhantes pagam 40 euros.
Dinheiro público: prioridade social ou luxo eleitoralista?
Questionado se os quase 557 mil euros em viagens para uma visita à Assembleia da República representam uma prioridade nas políticas sociais do concelho, o município responde: “obviamente. Estas atividades têm de ser analisadas no âmbito de um vastíssimo conjunto de programas municipais que o Município tem implementado, desde há muitos anos”.
Confrontada com a possibilidade de investir este montante em medidas estruturais de apoio aos idosos — como saúde, combate à solidão ou equipamentos sociais —, a Câmara afirma que “todas essas medidas de apoio social estão em execução, não deixando ninguém para trás ou ao abandono.”
Em ano de eleições: coincidência ou ação eleitoralista?
Com eleições autárquicas à porta, o VERDADEIRO OLHAR quis saber se o Executivo não teme que esta medida possa ser vista como uma ação de caráter eleitoralista.
A resposta de Paulo Ferreira foi direta: “nunca tal nos passou pela cabeça. Até porque, se o Executivo Municipal trabalhasse em função de calendários eleitorais, seria certamente reprovado pela maioria dos eleitores”.