
Esta semana publicamos, no Verdadeiro Olhar, a análise ao Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2024, divulgado pela Ordem dos Contabilistas Certificados. E, como tem sido hábito, olhámos com atenção para os números dos municípios da nossa área de influência, porque, convenhamos, as contas também contam.
E se há um caso que merece leitura cuidada, quase pedagógica, é o do município de Valongo.
À primeira vista, as finanças parecem um exemplo de vitalidade. Valongo está entre os que mais aumentaram a receita a nível nacional, é o terceiro município português que mais cresceu na cobrança de IMI e ocupa o 31.º lugar entre os que mais arrecadaram com a venda de bens e serviços correntes, um total de 8,3 milhões de euros em 2024.
Para se ter uma ideia da escala, em 2014 o município tinha arrecadado 3,46 milhões, ou seja, em dez anos mais do que duplicou a receita.
Um feito digno de nota, não fosse o pequeno detalhe de que… é também um dos municípios em pior situação financeira do país.
Sim, leu bem. Apesar das receitas recorde, Valongo é o 11.º município português que mais recorreu a financiamentos bancários no último ano, 7,5 milhões de euros emprestados pela banca em 2024. E como se isso não bastasse, figura ainda entre os 10 municípios que mais aumentaram a dívida líquida, ocupando o 9.º lugar nacional neste campeonato nada invejável.
A máquina municipal também não anda propriamente a gasóleo. Em 2024, Valongo gastou 23,8 milhões de euros em bens e serviços correntes, o que o coloca no 32.º lugar nacional em despesa de funcionamento. É certo que estes números incluem as despesas normais do dia-a-dia, energia, manutenção, serviços públicos essenciais, mas também cabem aqui as feiras, os concertos e as “festinhas” que tanto animam o calendário municipal e o orçamento camarário.
Feitas as contas, as sérias, não as festivas, Valongo é o 11.º município do país que mais aumentou a dívida no último ano, e surge ainda entre os 20 piores resultados económicos de Portugal, com um saldo negativo de 2,8 milhões de euros.
Não deixa de ser curioso, para não dizer irónico, que José Manuel Ribeiro, o presidente cessante, tenha chegado ao poder há 12 anos precisamente criticando as contas municipais e as alegadas “muitas festas” de então.
Doze anos depois, sai de cena deixando um município numa situação financeira crítica e uma herança de… muitas festas. Muitas mais, aliás.
E convém recordar que nestes números ainda não estão refletidas as contas da nova câmara municipal, cujo edifício, para ser finalmente concluído, deverá obrigar o município a pedir mais de 20 milhões de euros de financiamento. O que, naturalmente, agravará ainda mais o peso da dívida e deixará as finanças locais a dançar, mas, desta vez, ao som de uma música menos festiva.
Como diz Chico Buarque numa das suas bonitas canções: “Foi bonita a festa, pá”.
























