O vento, o voto e o vazio

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Chegamos ao final de mais uma campanha eleitoral. Como os nossos leitores terão notado, ao longo destas últimas semanas publicámos as entrevistas com os candidatos à presidência das câmaras municipais da região. O critério foi simples e transparente: entrevistámos o cabeça de lista de cada uma das forças políticas que atualmente têm representação nos executivos municipais. Apenas um candidato recusou o convite, Paulo Esteves Ferreira, do Partido Socialista em Valongo, sem dar qualquer explicação, apenas um breve SMS a declinar o convite.

As entrevistas tiveram cerca de uma hora. Não foram duelos nem interrogatórios, mas conversas tranquilas, com espaço para apresentar ideias, explicar medidas e responder a temas mais sensíveis. Cada candidato disse o que quis e o leitor, como sempre, fará o seu juízo de valor. Não nos cabe a nós fazer oposição; cabe-nos esclarecer.

Mas, dito isto, há algo que merece opinião.

Estas autárquicas não são umas eleições quaisquer, são, talvez, as mais imprevisíveis das últimas décadas na nossa região. Quatro presidentes de câmara estão de saída (Lousada, Paços de Ferreira, Penafiel e Valongo) todos por limitação de mandatos. Só Paredes repete o cenário, com o atual presidente a tentar o último fôlego.

Em Lousada, a direita volta a acreditar que pode, finalmente, quebrar o longo ciclo socialista. Leonel Vieira, da coligação PSD/CDS/IL, tenta pela quarta vez. Costuma dizer-se que “à terceira é de vez”, mas ele decidiu testar a quarta. Do outro lado, Nelson Oliveira, vice-presidente e herdeiro político de Pedro Machado, tenta manter o PS no poder. O partido tem uma estrutura sólida no concelho, mas o vento nacional sopra do lado da coligação de direita. Domingo veremos se vence a fidelidade ao PS ou o impulso da mudança.

Em Paços de Ferreira, a incerteza é total. Um concelho tradicionalmente social-democrata, mas onde o PS governa há 12 anos. Humberto Brito sai de cena e deixa o palco a Paulo Ferreira. A questão é simples: conseguirá o PS sobreviver sem o seu líder carismático? Do outro lado, a coligação PSD/CDS tenta recuperar terreno. Estas eleições vão mostrar se o PS ainda é governo em Paços de Ferreira ou se o eleitorado volta ao instinto.

Em Paredes, há fogo de artifício político. A campanha mais crispada, mais dura e mais falada da região.
Alexandre Almeida (PS) tenta o terceiro e último mandato, enfrentando Mário Rocha pela coligação PSD/CDS. Há polémicas, acusações e tensão, Paredes é o ringue político da região. Se a coligação de direita conseguir conquistar a câmara, será um feito político invulgar: derrubar um presidente com sete vereadores contra dois é coisa para ficar registada. No domingo, ficaremos a saber se as capas de jornal pesam nas urnas ou se ficam pelo ruído do papel amarrotado.

Em Penafiel, a sucessão de Antonino de Sousa é o ponto central. Pedro Cepeda, vice-presidente, tenta segurar o poder, mas enfrenta o desgaste de anos de governação marcados por notícias, investigações e polémicas. O PS aposta em explorar esse cansaço, mas a máquina social-democrata continua poderosa. É uma luta entre fidelidade e fadiga.

Em Valongo, o segundo grande enigma. Aqui, curiosamente, foi onde a campanha se manteve mais civilizada. Sem ataques pessoais, sem lama. Um concelho urbano, com quase metade dos eleitores em Ermesinde. E em Ermesinde, o voto tende a seguir o país. José Manuel Ribeiro sai por limite de mandatos. O PS aposta em Paulo Esteves Ferreira, e a AD apresenta Hélio Rebelo, gestor e figura conhecida localmente.

Depois há o incómodo novo de todos: o Chega. Candidatos pouco conhecidos, alguns nem sequer da terra, mas o partido teve resultados eleitorais fortes nas legislativas. Ninguém sabe o peso que terão localmente, mas basta um vereador para baralhar as maiorias absolutas. O Chega dificilmente ganhará uma câmara, mas pode decidir como se governa.

Resumindo: Estas autárquicas vão testar se, na política local, o nome ainda vale mais do que o partido. E vão mostrar o que acontece quando o território perde quatro “incumbentes” ao mesmo tempo.
A previsibilidade acabou. As coligações de direita chegam embaladas pelo “vento de Lisboa”, mas convém lembrar: há ventos que empurram e outros que derrubam. Domingo, nas urnas, veremos de que lado sopra.

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