Verdadeiro Olhar

Penafiel: 130 mil euros depois, escultura vai parar ao armazém

Foto: Câmara de Penafiel

Foi apresentada como um símbolo identitário e uma promessa de dinamização turística. Custou 130 mil euros, tinha vapores e um espelho de água. Mas a escultura da Bicha Serpe nunca chegou a cumprir o que prometia. Agora, vai ser retirada do centro de Penafiel para dar lugar a uma nova estátua — desta vez em homenagem ao piloto Joaquim Santos — e o destino da obra de José de Guimarães continua em aberto.

A escultura da Bicha Serpe, instalada em 2014 com pompa e circunstância no centro de Penafiel, vai ser removida. No seu lugar, a Câmara Municipal pretende agora instalar uma nova estátua em homenagem ao piloto penafidelense Joaquim Santos, figura marcante do desporto motorizado nacional, falecido em 2024.

O anúncio foi feito no âmbito da apresentação do Penafiel Racing Fest 2025. “Será prestada uma homenagem ao piloto penafidelense Joaquim Santos […] com a inauguração de uma peça escultórica no centro da cidade, no local onde anteriormente se encontrava a escultura da Bicha Serpe”, confirmou o município em resposta ao VERDADEIRO OLHAR.

A nova escultura, adianta a autarquia, representará “um justo tributo a um dos penafidelenses mais admirados, cujo percurso desportivo tanto honrou e prestigiou o nome de Penafiel”. No entanto, não avança qualquer informação sobre o custo da nova obra, o autor ou a data prevista para a sua instalação.

Já a escultura da Bicha Serpe — que custou 130 mil euros aos cofres públicos — será, segundo a Câmara, “relocalizada para outro espaço da cidade, ainda a definir, assegurando a sua valorização e preservação”. Não é claro, para já, se essa “valorização” passará por um novo local de destaque ou por um armazém municipal.

Concebida pelo reputado artista plástico José de Guimarães, a escultura foi apresentada como um investimento estruturante na identidade cultural penafidelense e na atração turística da cidade.

Inspirada na figura lendária das celebrações do Corpo de Deus, a Bicha Serpe tem cerca de quatro metros de altura, repousa sobre um espelho de água (quase sempre vazio) e integrava, no projeto inicial, um sistema de libertação de vapor de água, numa imitação de fumo.

Pouco depois da inauguração, contudo, o mecanismo de “fumo” deixou de funcionar. O espelho de água foi uma raridade, visível apenas em dias de chuva. O que era para ser um polo de atração de visitantes transformou-se numa obra parada no tempo, silenciosa e sem o brilho que lhe foi prometido.

O VERDADEIRO OLHAR questionou o município sobre diversos aspetos relacionados com esta substituição, incluindo o destino concreto da escultura atual, o tempo em que esteve inoperacional, eventuais estudos sobre impacto turístico e os custos da nova estátua. A resposta da autarquia foi omissa em quase todos os pontos. Sem um calendário definido para a homenagem a Joaquim Santos, sem nome de autor anunciado e sem resposta sobre o destino concreto da Bicha Serpe, o que fica certo, para já, é que um investimento de 130 mil euros em arte pública vai sair de cena — sem ter cumprido o objetivo que lhe foi atribuído.